São Paulo, segunda, 1 de fevereiro de 1999

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CENAS DA VIDA REAL
Bancário perde tudo que tinha no fundo do banco Boavista


da Reportagem local

Na tarde da última quinta-feira o administrador de empresas Roberto Martins, 31, não pode conferir o vestido que foi retirar em uma das lojas da rua São Caetano, a tradicional rua das noivas.
Reza a tradição que dá azar o noivo ter acesso ao traje nupcial antes da hora. Naquele dia, ao receber a caixa com as roupas da sua noiva, Martins não se sentia um homem feliz. O azar já lhe batera à porta na semana anterior.
Ele perdeu, da noite para o dia, todo seu patrimônio: R$ 270 mil que havia aplicado no fundo Boavista Hedge 60, que quebrou após a maxidesvalorização. Desempregado e com o casamento marcado para o próximo dia 6, em Conselheiro Lafaiete (MG), Martins viu o dinheiro que iria usar para comprar um apartamento e montar um negócio próprio virar fumaça. "Esse dinheiro era a minha vida", lamenta-se.
Os R$ 270 mil foram tudo que ele recebeu pelos 15 anos em que trabalhou no Boavista onde começou como office-boy e saiu como operador da mesa do mercado interbancário, em julho de 97.
A iniciativa do banco de pagar o valor da cota do dia 14 de janeiro, devolvendo 49% do dinheiro dos cotistas, não animou Martins.
"Não estou pleiteando apenas a metade do meu dinheiro. Quando apliquei me garantiram que o risco de perda era o de uma cotação do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) apenas", diz.
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Cidadão comum Martins não é nenhum grande especulador do mercado financeiro. Bancário desempregado, ele mora em Guarulhos, na região Metropolitana de São Paulo, onde começava a montar uma loja de materiais para construção.
Em junho do ano passado ele transferiu suas economias de um fundo de renda fixa para o Hedge 60, por orientação de um funcionário da área de aplicações do banco. "Ele me garantiu que o fundo trabalhava com sistema de limite de perdas", conta Martins.
Por isso, não atinou que havia exposto suas economias a um altíssimo risco ao investir em um fundo que fazia apostas no mercado futuro de dólar, aplicando quatro vezes o patrimônio.
"Nunca recebi o regulamento do fundo nem assinei qualquer documento que alertasse para a possibilidade de ter perda total", acrescenta. "Ninguém em sã consciência aplica tudo que tem em fundos de alto risco", conclui. (SANDRA BALBI)



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