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CENAS DA VIDA REAL
Bancário perde tudo que tinha no fundo do banco Boavista
da Reportagem local
Na tarde da última quinta-feira
o administrador de empresas Roberto Martins, 31, não pode conferir o vestido que foi retirar em
uma das lojas da rua São Caetano,
a tradicional rua das noivas.
Reza a tradição que dá azar o
noivo ter acesso ao traje nupcial
antes da hora. Naquele dia, ao receber a caixa com as roupas da
sua noiva, Martins não se sentia
um homem feliz. O azar já lhe batera à porta na semana anterior.
Ele perdeu, da noite para o dia,
todo seu patrimônio: R$ 270 mil
que havia aplicado no fundo Boavista Hedge 60, que quebrou após
a maxidesvalorização. Desempregado e com o casamento marcado para o próximo dia 6, em
Conselheiro Lafaiete (MG), Martins viu o dinheiro que iria usar
para comprar um apartamento e
montar um negócio próprio virar
fumaça. "Esse dinheiro era a minha vida", lamenta-se.
Os R$ 270 mil foram tudo que
ele recebeu pelos 15 anos em que
trabalhou no Boavista onde começou como office-boy e saiu como operador da mesa do mercado interbancário, em julho de 97.
A iniciativa do banco de pagar o
valor da cota do dia 14 de janeiro,
devolvendo 49% do dinheiro dos
cotistas, não animou Martins.
"Não estou pleiteando apenas a
metade do meu dinheiro. Quando apliquei me garantiram que o
risco de perda era o de uma cotação do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) apenas", diz.
²
Cidadão comum
Martins não é nenhum grande
especulador do mercado financeiro. Bancário desempregado,
ele mora em Guarulhos, na região
Metropolitana de São Paulo, onde começava a montar uma loja
de materiais para construção.
Em junho do ano passado ele
transferiu suas economias de um
fundo de renda fixa para o Hedge
60, por orientação de um funcionário da área de aplicações do
banco. "Ele me garantiu que o
fundo trabalhava com sistema de
limite de perdas", conta Martins.
Por isso, não atinou que havia
exposto suas economias a um altíssimo risco ao investir em um
fundo que fazia apostas no mercado futuro de dólar, aplicando
quatro vezes o patrimônio.
"Nunca recebi o regulamento
do fundo nem assinei qualquer
documento que alertasse para a
possibilidade de ter perda total",
acrescenta. "Ninguém em sã
consciência aplica tudo que tem
em fundos de alto risco", conclui.
(SANDRA BALBI)
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