São Paulo, segunda, 1 de fevereiro de 1999

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Como os gestores driblam o risco

MARA LUQUET
Editora do Folhainvest

Ibrahim Eris, ex-presidente do Banco Central, hoje sócio da Linear Investimentos e um prestigiado gestor de carteiras, tem um princípio para suas decisões de investimentos: "Quero aplicações com probabilidade pequena de ganhar muito, mas onde eu arrisque pouco", diz.
Essa é sua maneira de encarar o risco e deixá-lo sob controle diariamente, uma tarefa que não é fácil e um dos motivos pelos quais um investidor entrega a um administrador suas aplicações.
"A única vez que abri mão desse princípio entreguei boa parte do nosso patrimônio", diz Eris. Isso foi em outubro de 1997, quando era deflagrada a crise dos mercados asiáticos. Naquela época, alguns fundos da Linear sofreram perdas expressivas.
Hoje, eles estão na ponta ganhadora. Os fundos despontam entre as melhores rentabilidades do ano porque estavam com suas carteiras compradas em dólar e ganharam quando a moeda se valorizou frente ao real.
Até os anos 80, era a habilidade do administrador o principal recurso para o controle de risco de uma carteira de investimentos. Nos anos 90, os modelos matemáticos foram ganhando cada vez mais relevância. A crise deflagrada pelos mercados asiáticos, contudo, colocou em xeque esses modelos e de novo a figura do administrador desponta como o diferencial.
Em situações de crise o risco é de rupturas de modelos econômicos. Como no caso da desvalorização cambial. Observe o gráfico abaixo. Quem analisou o desempenho do fundo Hedge 60 enxergou algumas oscilações em relação à rentabilidade do CDI, o que já era um indicativo de risco. Mas seu histórico não mostrava perdas tão expressivas como a que ocorreu com a desvalorização do real.
"O problema dos modelos de controle de risco é que eles se baseiam nas oscilações passadas", diz Emanuel Pereira, gestor do IP GAP Hedge. "E aqui no Brasil a gente vive permanentemente sob o risco de ruptura", acrescenta.
Tome por exemplo o próprio câmbio. Os modelos matemáticos calculariam o risco de desvalorização medindo a oscilação do câmbio nos últimos anos. Mas como o dólar estava sob as rédeas do Banco Central desde 1994, sua oscilação estava controlada. Dessa forma o risco era mínimo, matematicamente. Daí a importância da experiência do administrador.
Para José Carlos de Seixas Pinto, diretor do banco Santander, o maior risco desse momento é o de credibilidade do governo, que pode desencadear a volta da inflação.
Nesse caso, diz João Teixeira, diretor do Dresdner Bank, o risco atual é a volta da indexação. "O ajuste fiscal que foi feito está sendo percebido como insuficiente" diz.



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