São Paulo, domingo, 1 de fevereiro de 1998

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Personalidades contam à Folha sobre a primeira vez que leram a obra
O dia em que eu li o 'Manifesto'


No lugar da exploração encoberta por ilusões religiosas e políticas,a burguesia colocou uma exploração aberta, desavergonhada" (Marx e Engels)


BERNARDO CARVALHO
especial para a Folha


São poucos os textos cuja identidade, de tão forte, coloca a do leitor em risco. O "Manifesto Comunista" é um deles. Qualquer juízo de valor que o leitor fizer em público pode comprometê-lo para sempre, seja para um lado, seja para o outro. Elogiar o "Manifesto" sem ressalvas pode significar ainda hoje um atestado inequívoco de marxista. Daí o cuidado, sobretudo de políticos, ao comentar, a convite da Folha, a primeira vez que o leram e a impressão que tiveram.
De espécie de "bíblia satânica" nos Estados Unidos dos anos 50, quando o jovem John Updike o leu pela primeira vez, a simples "documento histórico", comentário distanciado com que os políticos tentam, mais ou menos, resguardar suas identidades diante do pequeno livro, o "Manifesto Comunista" parece já ter servido a tudo, a todos os fins e ideologias, seja para um lado, seja para o outro.
Mais do que qualquer outro texto neste século, no entanto, o "Manifesto" serviu, e continua servindo, como um espelho para os seus leitores. A mais simples opinião expressa sobre esse texto é definitiva para definir um retrato, a posição do leitor diante do mundo. Parte dessa sina é resultante, obviamente, do fato de o texto ter sido concebido como um programa político, um ensaio militante, o que não costuma deixar espaço para que o leitor decida se é algo além de contra ou a favor. Mas, nesse caso, não se trata somente disso. Cada um parece ler no manifesto a marca da sua própria identidade. E não é à toa que Updike o tenha lido com humor, Eric Hobsbawm, com empolgação, e Fernando Henrique Cardoso, dentro de um contexto histórico.



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