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Conheça, de A a Z, aspectos do universo literário de Jorge Luis Borges, cujo
centenário de nascimento será comemorado no próximo dia 24
enciclopédia Borges
ADRIANO SCHWARTZ
Editor-adjunto do Mais!
Em uma entrevista concedida
em 1978, o escritor Jorge Luis Borges disse: "Se não se escreve impelido por uma necessidade, acaba-se produzindo uma obra sem valor. Por isso, às vezes me pedem
que escreva alguma coisa sobre
um centenário, por exemplo, e isso se torna um esforço para mim.
Nem sempre se está pensando em
um centenário".
Apesar de a afirmação, de modo
geral, ser incontestável, ela dificilmente poderia valer para o próprio escritor em seu centenário
-ele nasceu no dia 24 de agosto
de 1899. Como esta edição do
Mais! comprova, escrever sobre
(e pensar em) Borges é uma necessidade para praticamente
qualquer um que lide com (e goste de) literatura -ainda que isso
exija o esforço de que ele fala. O
caderno traz 23 verbetes, do "a"
de Aleph ao "z" de Zahir, feitos
por especialistas e não-especialistas na obra do autor argentino.
A influência de Borges é tão generalizada, que ele, como seu simétrico oposto ou duplo hipotético, o "anti-Borges", se transformou atualmente quase num precursor universal, doador-modelo
a ser imitado, superado ou combatido, nunca ignorado.
O mais espantoso é que para isso acontecer não foram necessárias mais do que duas centenas de
páginas. Não se pode, é claro, esquecer que Borges foi um dos
fundadores do modernismo argentino e escreveu centenas de
poemas que, no conjunto, compõem um dos pontos altos da lírica em língua espanhola deste século. Além disso, como ensaísta,
mobilizou o conhecimento de várias línguas, a ampla cultura e
uma memória aparentemente tão
infinita quanto a de Funes, protagonista de um de seus mais conhecidos textos, para discutir desde as metáforas da literatura islandesa até os tradutores das "Mil
e Uma Noites".
É, contudo, nos 34 contos de
"Ficções" (1944) e de "O Aleph"
(1949) que surge, se aprimora e
atinge o auge aquele que viria a
ser internacionalmente conhecido como "Borges", um outro, o
mesmo. Neles encontram-se
obras-primas das diversas modalidades de narrativas curtas praticadas pelo escritor.
Há as resenhas fictícias sobre
obras ou autores fictícios, como
"Pierre Menard, Autor do Quixote" ou "Exame da Obra de Herbert Quain". Trata-se de textos
baseados em um procedimento
essencial a Borges, para quem é
um "dever laborioso e empobrecedor" fazer livros extensos e "espraiar em 500 páginas uma idéia
cuja perfeita exposição cabe em
poucos minutos".
Há os contos fantásticos, como
"O Imortal" ou "As Ruínas Circulares", e os policiais -entre outros aspectos, paródias elaboradíssimas de textos de Edgar Allan
Poe-, como "O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam" ou "A
Morte e a Bússola".
Há, ainda, os contos em que
surge uma Argentina quase mítica -feita de duelos, facas, traições-, como em "Biografia de
Tadeo Isidoro Cruz" e "O Sul".
Com o passar dos anos, esses 34
contos fascinam cada vez mais leitores e vêm sendo estudados por
uma série incontável de críticos.
Borges dizia ver com assombro
esse acúmulo de admiradores e
intérpretes. Intrigava-o, supostamente, o fato de tais narrativas,
em que buscava sobretudo reproduzir o prazer obtido por ele em
suas leituras favoritas, atraírem
tanta gente.
Talvez o sucesso em cumprir essa singela intenção seja, afinal, o
segredo de sua literatura decisiva.
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