São Paulo, Domingo, 02 de Janeiro de 2000


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+ diálogos impertinentes

Paz no futuro e glória no passado

Mario Sergio Cortella
especial para a Folha

Deitado eventualmente em berço esplêndido, o Brasil percorreu o século 20 embalado pela sedutora auto-promessa de um porvir radiante; corações e mentes acreditamos e desacreditamos que, "gigante pela própria natureza, és belo, és forte, impávido colosso, e o teu futuro espelha essa grandeza". Ora, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Refletir sobre o porvir foi o desafio enfrentado na noite de 30 de novembro, numa conversa sobre "O Futuro", com o geógrafo Aziz Ab'Saber e o sociólogo Laymert Garcia dos Santos.
Décimo e último programa da série-99 dos "Diálogos Impertinentes" (completados já cinco anos como promoção conjunta Folha/Sesc/PUC-SP), "O Futuro" aconteceu no Tuca, na capital paulista, com transmissão nacional ao vivo pela TV PUC, e teve, também, a mediação de Sérgio Dávila, editor da Ilustrada.
Aziz Ab'Saber iniciou afirmando que "a expressão futuro tem sido muito banalizada. As pessoas dizem sempre: é preciso pensar no futuro; fico meditando sobre qual a profundidade do futuro que se fala. O futuro em relação à economia, por exemplo, começou projetando cinco anos (os famosos quinquênios), depois baixou para três, depois dois meses, e, agora, da manhã para a noite, pois as coisas estão nervosas e variáveis".
Laymert dos Santos completou, lembrando que "há diferentes futuros. De um lado, está o tempo do ambiente, da natureza, da ecologia; de outro, o futuro de curto prazo que a sociedade quer imprimir. Para o imediato humano, temos um descompasso entre uma federação técnico-científica e econômica e, simultaneamente, temporalidades que não se ajustam a essa aceleração, sejam temporalidades humanas, sejam as temporalidades das outras espécies".
Para o geógrafo, não é possível ser muito otimista quanto ao nosso futuro imediato: "Pela marcha dos acontecimentos e das desigualdades históricas, a conquista total de cidadania permanece distante da verdadeira democracia e da harmonização da sociedade. Porém a luta pelos direitos humanos vem sendo uma constante e há uma resistência cultural fantástica em formação dentro do nosso país; é preciso opor-se à essa estratégia substitutiva do antigo processo de colonização, agora chamada globalização, a partir da qual a dominação geral dá-se em função exclusivamente do econômico, sem interesse pela preservação do cultural ou da formação educacional".
Como fica, então, a possibilidade de paz no futuro e glória no passado?
Só o futuro dirá...


Mario Sergio Cortella é professor de teologia e ciências da religião da PUC-SP e autor de "A Escola e o Conhecimento" (Inst. Paulo Freire/Cortez).


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