|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
+ diálogos impertinentes
Paz no futuro e glória no passado
Mario Sergio Cortella
especial para a Folha
Deitado eventualmente em berço esplêndido, o Brasil percorreu o século 20 embalado pela sedutora auto-promessa de um porvir radiante; corações e
mentes acreditamos e desacreditamos
que, "gigante pela própria natureza, és
belo, és forte, impávido colosso, e o teu
futuro espelha essa grandeza". Ora, nem
tanto ao mar, nem tanto à terra. Refletir
sobre o porvir foi o desafio enfrentado na
noite de 30 de novembro, numa conversa sobre "O Futuro", com o geógrafo
Aziz Ab'Saber e o sociólogo Laymert
Garcia dos Santos.
Décimo e último programa da série-99
dos "Diálogos Impertinentes" (completados já cinco anos como promoção conjunta Folha/Sesc/PUC-SP), "O Futuro"
aconteceu no Tuca, na capital paulista,
com transmissão nacional ao vivo pela
TV PUC, e teve, também, a mediação de
Sérgio Dávila, editor da Ilustrada.
Aziz Ab'Saber iniciou afirmando que
"a expressão futuro tem sido muito banalizada. As pessoas dizem sempre: é
preciso pensar no futuro; fico meditando
sobre qual a profundidade do futuro que
se fala. O futuro em relação à economia,
por exemplo, começou projetando cinco
anos (os famosos quinquênios), depois
baixou para três, depois dois meses, e,
agora, da manhã para a noite, pois as coisas estão nervosas e variáveis".
Laymert dos Santos completou, lembrando que "há diferentes futuros. De
um lado, está o tempo do ambiente, da
natureza, da ecologia; de outro, o futuro
de curto prazo que a sociedade quer imprimir. Para o imediato humano, temos
um descompasso entre uma federação
técnico-científica e econômica e, simultaneamente, temporalidades que não se
ajustam a essa aceleração, sejam temporalidades humanas, sejam as temporalidades das outras espécies".
Para o geógrafo, não é possível ser muito otimista quanto ao nosso futuro imediato: "Pela marcha dos acontecimentos
e das desigualdades históricas, a conquista total de cidadania permanece distante da verdadeira democracia e da harmonização da sociedade. Porém a luta
pelos direitos humanos vem sendo uma
constante e há uma resistência cultural
fantástica em formação dentro do nosso
país; é preciso opor-se à essa estratégia
substitutiva do antigo processo de colonização, agora chamada globalização, a
partir da qual a dominação geral dá-se
em função exclusivamente do econômico, sem interesse pela preservação do
cultural ou da formação educacional".
Como fica, então, a possibilidade de
paz no futuro e glória no passado?
Só o futuro dirá...
Mario Sergio Cortella é professor de teologia e ciências da religião da PUC-SP e autor de "A Escola e o Conhecimento" (Inst. Paulo Freire/Cortez).
Texto Anterior: Ponto de fuga - Jorge Coli: Estrelas e listas Próximo Texto: Joyce Pascowitch Índice
|