São Paulo, domingo, 02 de abril de 2000


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A herança africana

Manolo Florentino
especial para a Folha

Para mim a grande lacuna da história brasileira é representada, paradoxalmente, pelo que de africano temos. Explico-me: durante mais de 300 anos dependemos dos africanos para reproduzir nossa economia e nossa sociedade. Isso significa que parcela expressiva da população colonial era formada por homens e mulheres que não apenas haviam nascido na África, mas que também vieram ao mundo livres. Logo, o cativeiro não era de modo algum uma espécie de destino manifesto.
Do ponto de vista analítico, creio perder-se muito quando se ignora ter sido o "africano" (assim mesmo, entre aspas) uma cruel invenção do cativeiro, já que aqueles que por séculos a fio desembarcaram nos portos coloniais eram, antes que nada, minas, cabindas, quiloas, rebolos, cassanjes, moçambiques e demais -experiências que nada indicam haver fenecido sob a rubrica jurídica de "escravo".
Por isso, a grande lacuna da historiografia brasileira deriva de tomar o escravo africano unicamente a partir de seu desembarque nos portos brasileiros, procedimento que tem ensejado a apresentação de soluções algo artificiais a intrincados problemas de nossa história -especialmente os relativos a nossa identidade.


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