São Paulo, domingo, 02 de agosto de 2009

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Mártir da sociedade patriarcal

JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Acima de tudo, Euclydes da Cunha foi e é poeta. Rimbaud dizia de seu poeta: "Eu é um Outro". Esse Outro foi quem escreveu "Os Sertões". Euclydes sentia-se atraído por viagens, não suportava o meio opressivo social patriarcal romano. Sentia sempre necessidade de escapar à captura da vida da corte, monarquista ou republicana.
Identificou-se com Antônio Maciel, que, para fugir da "vendeta" que se exigia para o "corneado" no Nordeste oligárquico, foi mudando de cidade em cidade com a sua "mulher de todos" até ser abandonado por ela e ir para o deserto onde, buscando a paz, transfigurou-se em Antônio Conselheiro.
Antônio buscava a paz, mas seu destino trágico o atirou para uma guerra do Brasil inteiro contra o seu amado povo canudense. Euclydes, por sua vez, foi capturado pela "honradez" da sociedade patriarcal que repudiava e entrou em ação no papel do "corno ofendido".
Euclydes foi sacrificado tragicamente, há cem anos, por razões opostas às do Conselheiro. Ambos, entretanto, vítimas do mesmo velho direito romano de propriedade. Sua condição de "humano, demasiadamente humano" paradoxalmente não rimou com "seu poeta", "seu Outro", este sim o vitorioso, um dos maiores poetas imortais do planeta Terra, que amou como quem ama uma mulher.



JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA é diretor do teatro Oficina e montou, em 2002, adaptação do livro "Os Sertões".


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