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VISÕES DE CANUDOS
CONFLITO TEM INTERPRETAÇÕES CONTROVERSAS
DA REDAÇÃO
As razões para a Guerra
de Canudos, no sertão
baiano, variam de acordo com a interpretação dada
aos documentos da época.
Desde o final do século 19, grupos sociais diversos as explicaram de maneiras diferentes.
Para os grandes proprietários da região, o líder Antônio
Conselheiro incentivava saques e invasões; para as autoridades republicanas, tratava-se de uma revolta monarquista; para cidadãos que acompanharam a campanha militar
pelos jornais, tornou-se uma
questão de honra.
Entre os historiadores surgiram variadas versões do
Conselheiro, de manipulador
de uma seita milenarista a revolucionário socialista. Atualmente, tem sido identificado
como um líder comunitário,
de uma cidade sem inovações
especialmente revolucionárias, que se tornou um bode
expiatório da aristocracia.
O beato Antônio Conselheiro se estabeleceu na região,
com centenas de seguidores,
em 1893. A figura do Conselheiro é por vezes associada ao
messianismo, mas sobreviventes do conflito relataram
que ele se apresentava apenas
como um líder cristão leigo.
A República, instaurada em
1889, era ainda assimilada. A
comunidade de Canudos, relativamente independente dos
grandes proprietários da região, foi tachada antirrepublicana por seus adversários.
Uma das explicações para o
nascimento do conflito é a insatisfação de fazendeiros locais, que perdiam mão-de-obra barata, poucos anos depois do fim da escravidão, para
o povoado de Canudos.
Acaso ou utopia
A vila seguia a tradição religiosa do trabalho comunitário.
Ao longo do século 20, essa característica justificou sua associação ao comunismo e a diversas utopias. Professores ouvidos pela Folha rejeitam as
explicações que veem em Canudos um "projeto" social, por
exemplo porque havia desigualdade interna.
Para Manuel Domingos Neto, da Universidade Federal
Fluminense, "nenhuma análise tem levado em conta rigorosamente a crise da pecuária
extensiva. Ao longo do século
19, houve muito deslocamento, muita mortandade -a seca
de 1877 matou meio milhão de
pessoas. A população já se deslocava. Poderia ser qualquer
lugar -o Piauí era a região da
pujança na época-, mas alguns foram para Canudos".
Em 1896, um boato de que o
Conselheiro planejava saquear comunidades vizinhas
-ou cobrar à força uma dívida- ensejou a demonstração
de poder por parte do Estado
baiano. A primeira expedição
-ou tentativa de restaurar a
ordem- contra Canudos, liderada pelo tenente Pires Ferreira, foi derrotada.
Em janeiro de 1897, a segunda expedição, com centenas de
homens sob o comando do
major Febrônio de Brito, também fracassou. Canudos tornou-se falada por todo o Brasil. Na terceira expedição,
também malsucedida, morreu
o comandante das tropas, o coronel Moreira César.
Popularizou-se a imagem,
nunca referendada, de que o
Conselheiro representasse os
interesses da princesa Isabel.
Sob a bandeira de uma República "ameaçada", entre 6.000
e 10 mil soldados rumaram a
Canudos na quarta expedição,
a partir de junho de 1897. Calcula-se que fossem dez vezes
mais numerosos que os combatentes canudenses.
Com uma estrutura de guerra que incluía artilharia e
avanço de soldados em duas
colunas, o conflito durou até 5
de outubro. No dia seguinte, a
vila foi incendiada.
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