São Paulo, domingo, 02 de outubro de 2005

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BALZAC
É um sujeito que não desistiu do dossiê "situação da sociedade". A ambição é extrema. Sinto dizê-lo, mas não creio que tenha havido uma verdadeira revolução na arte do romance desde então. Proust não é mais um romance. Ele ultrapassou os limites, completamente. Creio que Balzac estabeleceu o gênero de maneira definitiva. E além disso, Balzac é muito útil para mim. Não é bom ser modesto demais. Por isso tento ser um pouco megalômano, dizer a mim mesmo que sou o melhor. Como é cansativo, temos a necessidade de nos sentir um grande escritor de vez em quando, senão nos faltaria energia. Mas, de vez em quando, é bom ter uma pequena crise de modéstia, então lembro de Balzac e pronto, sinto-me muito modesto. É preciso manter um equilíbrio em termos de auto-estima, é preciso sentir-se muito ruim, insignificante, e é verdade que Balzac me causa exatamente esse efeito. Ele revolveu muito mais emoções humanas que eu. Bem, ainda não morri, mas por enquanto sou muito menos bom que Balzac -sem qualquer dúvida. Bem, paro por aqui minha crise de modéstia.


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