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O vício da amizade
Arquivamento de investigações envolvendo irregularidades no Congresso reforça premissa de que parlamentares se omitem na punição de colegas e contribui para a imagem negativa da instituição
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nenhuma explicação foi tão feliz como a do deputado
Edmar Moreira
(PR-MG) para definir a dificuldade de congressistas quando precisam investigar e punir seus pares. O "vício insanável da amizade" é o
maior obstáculo à frente de um
processo de cassação, disse ele.
Moreira foi vítima e beneficiário do seu axioma. Quando
deu sua explicação em público,
acabara de ser eleito corregedor da Câmara, em fevereiro
passado. Passou então a ser escrutinado pela mídia.
Além do castelo de propriedade de sua família, em Minas
Gerais, descobriu-se que o deputado usava a verba indenizatória para pagar serviços de segurança pessoal a suas próprias
empresas.
Removido do cargo de corregedor, Moreira enfrentou um
processo no Conselho de Ética
da Câmara. Ao final, acabou
inocentado -apesar das provas
do uso do dinheiro público nas
empresas do congressista.
Em 1997, deputados foram
gravados em conversas informais admitindo ter vendido o
voto a favor da aprovação da
emenda da reeleição -que permitiu a Fernando Henrique
Cardoso (PSDB) ter concorrido a um segundo mandato em
1998. Não houve CPI nem ninguém foi punido.
No caso do mensalão, em
2005, dezenas de congressistas
estavam envolvidos num esquema para reforçar a base governista do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva no Congresso. Só três deputados foram cassados, entre eles o ex-ministro-chefe da Casa Civil,
José Dirceu, denunciado pelo
Ministério Público sob o epíteto de "chefe da quadrilha" do
mensalão.
Dirceu e o ex-tesoureiro do
PT Delúbio Soares ainda
aguardam julgamento, alegam
inocência e trabalham na volta
à vida pública.
O restante das dezenas de
acusados se salvou. No ano seguinte Lula foi reeleito para
mais um mandato no Planalto
e hoje segue com a maior base
no Congresso Nacional.
Atenção e esquecimento
Neste ano, mais de 90 casos
de irregularidade foram registrados na Câmara e no Senado.
Ninguém foi punido. O presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP), enfrentou 11 acusações, variando da responsabilidade por atos secretos ao
emprego de funcionários fantasmas. Foi absolvido.
O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), esteve
envolvido na chamada "farra
das passagens aéreas". Mais da
metade dos 513 deputados usaram o benefício para passear
com a família e amigos. No caso
de Temer, ele viajou com mulher, amigos e familiares para
Porto Seguro (BA), em janeiro
de 2008, período de férias no
Congresso. Nada aconteceu.
Não é de hoje que casos assim
chamam a atenção da mídia
num primeiro momento, mas
acabam esquecidos.
(FR)
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