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Suspeita generalizada
Igreja, Forças Armadas e imprensa são mais bem avaliadas, mas imagem da corrupção é alta
PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A percepção de corrupção nas instituições é tão generalizada que não há as
que têm melhor
imagem, mas apenas as que são
menos percebidas como corruptas.
O ranking das instituições
vistas como menos corruptas é
liderado pela Igreja Católica,
onde 29% acreditam que não
existam casos de corrupção
-no entanto, 53% afirmam
que sabem ou já ouviram dizer
de casos de desvios na igreja.
Em seguida aparecem as
Forças Armadas, onde o placar
é de 24% para os que dizem não
haver casos de corrupção na
instituição, contra 54% para os
que dizem que existem. O restante declara não saber.
A imprensa fica em terceiro
nesse ranking das menos piores: para cada pessoa que acredita que não haja corrupção
nessa instituição, três acham
que sim (21% a 61%).
O quarto lugar é ocupado pelas igrejas evangélicas. Para
20%, não há casos de corrupção nessas igrejas. Para 64%,
eles existem.
"Para o brasileiro, existe corrupção em todas as instituições", afirma o diretor-geral do
Datafolha, Mauro Paulino. "A
sucessão de escândalos ajuda a
alimentar essa percepção, mas
ela já vem de longa data", afirma Paulino.
Para Maria Hermínia Tavares de Almeida, professora titular de ciência política na
USP, "mesmo sabendo que
existe uma sensação alta de
corrupção no Brasil, é surpreendente que atinja esse nível" indicado pela pesquisa.
As Forças Armadas, que dirigiram o país de forma ditatorial
entre 1964 e 1985, hoje se beneficiam da pouca exposição, avalia o diretor-geral do Datafolha.
"Elas não estão tão expostas
quanto estavam antes", afirma.
O historiador Luiz Felipe de
Alencastro, professor na Universidade de Paris 4, diz que, se
a pesquisa fosse feita durante a
ditadura, "ia ter 0% de corrupção [nas respostas], mas a gente sabe que acontecia".
Estudo, renda e ceticismo
Quanto maior a escolaridade,
maior o ceticismo em relação
às instituições. No caso da imprensa, 55% dos que têm nível
fundamental acham que há
corrupção, número que sobe
para 65% entre os que possuem
nível médio e chega a 69% na
faixa dos que cursaram o ensino superior. Quando a instituição é a Igreja Católica, os percentuais são de 46%, 59% e
61%, respectivamente.
A relação segue o mesmo padrão quando se trata de renda e
poder de consumo. Quanto
maior, mais alta é a percepção
de corrupção nas instituições.
No caso das Forças Armadas,
58% dos brasileiros das classes
A/B acham que existem casos
de corrupção, percentual que
cai para 54% na fatia C e desce
para 49% nas classes D/E.
Em relação às igrejas evangélicas, os números vão dos 14%
que não acreditam haver corrupção nessa instituição (classes A/B), passam a 20% (C) e
chegam a 29% (D/E).
Em nenhuma instituição,
nas centenas de cruzamentos
da pesquisa, por idade, sexo, escolaridade etc., o percentual
dos que acreditam que não há
corrupção é maior do que o daqueles que pensam haver.
Para a professora Maria Hermínia, da USP, uma percepção
tão alta de desvios "vem do fato
de que a corrupção se transformou num ponto central da
questão política e um foco da
imprensa". Uma possível consequência da crença generalizada de corrupção nas instituições, ela diz, pode ser uma certa
apatia. "Se as pessoas acham
que tudo e todos são corruptos,
ser corrupto ou não deixa de
ser um critério da escolha política. Você cria uma espécie de
cinismo realista."
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