São Paulo, domingo, 04 de outubro de 2009

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Suspeita generalizada

Igreja, Forças Armadas e imprensa são mais bem avaliadas, mas imagem da corrupção é alta

PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A percepção de corrupção nas instituições é tão generalizada que não há as que têm melhor imagem, mas apenas as que são menos percebidas como corruptas.
O ranking das instituições vistas como menos corruptas é liderado pela Igreja Católica, onde 29% acreditam que não existam casos de corrupção -no entanto, 53% afirmam que sabem ou já ouviram dizer de casos de desvios na igreja.
Em seguida aparecem as Forças Armadas, onde o placar é de 24% para os que dizem não haver casos de corrupção na instituição, contra 54% para os que dizem que existem. O restante declara não saber.
A imprensa fica em terceiro nesse ranking das menos piores: para cada pessoa que acredita que não haja corrupção nessa instituição, três acham que sim (21% a 61%).
O quarto lugar é ocupado pelas igrejas evangélicas. Para 20%, não há casos de corrupção nessas igrejas. Para 64%, eles existem.
"Para o brasileiro, existe corrupção em todas as instituições", afirma o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino. "A sucessão de escândalos ajuda a alimentar essa percepção, mas ela já vem de longa data", afirma Paulino.
Para Maria Hermínia Tavares de Almeida, professora titular de ciência política na USP, "mesmo sabendo que existe uma sensação alta de corrupção no Brasil, é surpreendente que atinja esse nível" indicado pela pesquisa.
As Forças Armadas, que dirigiram o país de forma ditatorial entre 1964 e 1985, hoje se beneficiam da pouca exposição, avalia o diretor-geral do Datafolha. "Elas não estão tão expostas quanto estavam antes", afirma.
O historiador Luiz Felipe de Alencastro, professor na Universidade de Paris 4, diz que, se a pesquisa fosse feita durante a ditadura, "ia ter 0% de corrupção [nas respostas], mas a gente sabe que acontecia".

Estudo, renda e ceticismo
Quanto maior a escolaridade, maior o ceticismo em relação às instituições. No caso da imprensa, 55% dos que têm nível fundamental acham que há corrupção, número que sobe para 65% entre os que possuem nível médio e chega a 69% na faixa dos que cursaram o ensino superior. Quando a instituição é a Igreja Católica, os percentuais são de 46%, 59% e 61%, respectivamente.
A relação segue o mesmo padrão quando se trata de renda e poder de consumo. Quanto maior, mais alta é a percepção de corrupção nas instituições. No caso das Forças Armadas, 58% dos brasileiros das classes A/B acham que existem casos de corrupção, percentual que cai para 54% na fatia C e desce para 49% nas classes D/E.
Em relação às igrejas evangélicas, os números vão dos 14% que não acreditam haver corrupção nessa instituição (classes A/B), passam a 20% (C) e chegam a 29% (D/E).
Em nenhuma instituição, nas centenas de cruzamentos da pesquisa, por idade, sexo, escolaridade etc., o percentual dos que acreditam que não há corrupção é maior do que o daqueles que pensam haver.
Para a professora Maria Hermínia, da USP, uma percepção tão alta de desvios "vem do fato de que a corrupção se transformou num ponto central da questão política e um foco da imprensa". Uma possível consequência da crença generalizada de corrupção nas instituições, ela diz, pode ser uma certa apatia. "Se as pessoas acham que tudo e todos são corruptos, ser corrupto ou não deixa de ser um critério da escolha política. Você cria uma espécie de cinismo realista."


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