São Paulo, domingo, 05 de dezembro de 2004 |
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Para Morais, "liberdade é ilimitada'
DA REDAÇÃO
O que faz uma boa biografia? Um bom personagem, uma pesquisa exaustiva e depois escrever, reescrever, "trescrever" cada palavra, até ficar bonito, atrativo, sedutor. Até onde vai a liberdade do biógrafo em relação aos fatos apurados? Minha liberdade como biógrafo é ilimitada. Coloco nos meus livros o que apurei e que acredito ser verdadeiro, e costumo colocar mais de uma opinião quando se trata de uma fato importante, e existem opiniões diferentes. Quando "desenterro um defunto", faço todo o esforço para que ele volte a andar o mais parecido possível ao que ele era quando estava vivo. Independentemente do juízo que eu faça do que foi a vida dele. O leitor é que tem que tirar uma conclusão e formar um juízo a respeito do personagem a partir do maior volume de informações possível. Como o sr. escolhe os biografados? Não existe uma receita. Se tivesse que escolher um só ingrediente, eu diria que me encantam principalmente os personagens cuja história revele fatos novos da História. Como está seu projeto de biografia sobre Antonio Carlos Magalhães? Faz oito anos que comecei a trabalhar no projeto da biografia do senador. Ainda não comecei a entrevistar amigos, inimigos, políticos, gente que conviveu com ele. O grande diferencial a favor, ao escrever sobre alguém vivo, é o privilégio de ter o acesso ao personagem em primeira mão. "Olga" e "Chatô" teriam sido livros muito melhores se eu tivesse tido a possibilidade de conviver, uma semana que fosse, com cada um deles. O diferencial contra é que este livro parece não ter fim. A cada semestre o personagem me dá um capítulo novo. Como fica a relação entre o escritor e o personagem biografado após muito tempo de convivência? É possível conseguir ser imparcial, não se envolver. Antonio Carlos Magalhães é um personagem polêmico e talvez por isso mesmo tenha me atraído, assim como Chateaubriand. O interesse que tenho por ele é pelo personagem, pelo que ele vem, ao longo dos últimos 50 anos, não só testemunhando mas protagonizando na política brasileira. O que o sr. achou da adaptação de "Olga" para o cinema? Gostei muito. Aliás, eu e o povo brasileiro, já que o filme está chegando aos 4 milhões de espectadores. Que biografias o sr. considera mais importantes na literatura mundial? É difícil responder, mas vêm à memória pelo menos duas que me marcaram muito pela qualidade: "Che Guevara - Uma Biografia" [Objetiva], de Jon Lee Anderson, e "O Rei do Mundo" [Cia. das Letras], de David Remnick. Recentemente li uma excelente biografia do marechal Castello Branco, escrita pelo cearense Lira Neto ["Castello - A Marcha para a Ditadura", ed. Contexto]. Há algum outro projeto a que o sr. se
dedique atualmente?
Estou trabalhando na biografia do
Marechal Casimiro Montenegro Filho [1904-2000], um personagem
fascinante. Um homem que teria feito cem anos neste ano se estivesse vivo e que, 50 anos atrás, acreditou que
o Brasil poderia se tornar uma potência aeronáutica. Devo terminar
este projeto no ano que vem. Também estou dando um ponto final no
livro sobre o publicitário Washington Olivetto e a W/Brasil, "Made in
Brasil", que deve sair no início do
próximo ano pela ed. Planeta. |
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