São Paulo, domingo, 6 de abril de 1997.

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A libertação do DJ

especial para a Folha, de Berlim

Quando tinha 15 anos, o alemão Maximilian Lenz era roqueiro punk. Aos 18, terminou a escola e tornou-se DJ. Com 20 anos, abriu uma gravadora e, aos 24, participou da primeira Love Parade. Hoje, aos 32, o DJ e empresário Maximilian Lenz -conhecido como Westbam- é uma das estrelas do movimento tecno na Alemanha.
Nesta entrevista à Folha, concedida na sua gravadora num bairro nobre de Berlim, Westbam falou sobre o trabalho de DJ e afirmou ser tecno a música do presente e do futuro. (SILVIA BITTENCOURT)

Folha - Enquanto alguns anos atrás a cultura tecno era algo clandestino, hoje é um negócio milionário. Era esta a idéia original do movimento?
Westbam -
Neste sentido, não. Sua origem está na busca de diversão, por meio de uma forma totalmente nova de música. No início, havia poucas pessoas, como acontece em tudo que é novo. Mas em Berlim o público aumentou de forma rápida.
Por meio da reunificação, surgiram não só novos espaços, mas também um clima favorável. Eu falava, na época, em "dança da libertação". Os "kids" alemães-orientais tinham uma energia especial, "dançavam" tudo aquilo que antes havia sido reprimido. Mas não havia a idéia de que seria algo só para poucos. No início, forram centenas de pessoas. Mais tarde, um milhão.
Folha - Tecno é uma moda ou vai marcar uma geração?
Westbam -
Depende. No seu sentido original, trata-se de uma música futurística, rigorosa, composta dos barulhos das cidades. Esta foi a concepção de tecno já entre futuristas, cem anos atrás, quando não havia sampler e sintetizador. Hoje, tecno significa todo um conjunto de músicas, uma música de DJs, de alta velocidade, na qual tudo pode acontecer e tudo se pode incluir, como house music, música jungle etc. Neste sentido mais amplo, tecno é a música do presente e do futuro.
Folha - A Alemanha é tida como um país bem disciplinado. Como pôde surgir aqui um dos maiores movimentos tecnos do mundo?
Westbam -
Na condição de alemão, filho de hippies, criado nos anos 60 de forma antiautoritária, não tenho essa idéia da Alemanha. Os alemães não são tão disciplinados, isto é um clichê. O país é relativamente bem organizado, o que leva as pessoas a trabalharem menos do que a média entre os europeus. Isso significa que elas têm mais tempo para lazer e podem dirigir sua energia -que a geração anterior gastou em trabalho- em coisas novas. Na minha opinião, assim surgiu a cultura tecno. Berlim, centro da cultura tecno, é uma cidade muito aberta, muito louca.
Folha - Que características precisa ter um DJ para animar o seu público?
Westbam -
Basicamente, a capacidade de intermediar, para sincronizar e integrar música e pessoas. Experiência ajuda, mas talento é importante. As condições técnicas, como mixar, sincronizar etc., são relativamente fáceis, qualquer um pode aprender.
Folha - Como um DJ dirige o comportamento dos ravers?
Westbam -
Não é uma questão de "dirigir", mas do "input" das pessoas, de suas reações. O DJ não determina para onde vai a festa, assim como ele não toca só o que o público quer. Numa festa realmente boa, essa questão do poder não desempenha papel nenhum. Tudo acontece naturalmente: a animação, a libertação do público e do DJ.
Folha - Que música você mais gosta de ouvir quando está em casa?
Westbam -
Eu ouço sempre música tecno. Não faço a distinção entre lazer, hobby e trabalho. Naturalmente, sempre que ouço música tecno, isso está tendo uma função no que faço profissionalmente, como DJ. Nesse sentido, não tenho uma música de lazer. Tudo que ouço faz parte do meu trabalho, do qual gosto muito.

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