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Entre o banal e o sublime
O filósofo Alain de Botton narra uma semana passada no mais movimentado aeroporto de Londres
BOYD TONKIN
Os admiradores do
equilíbrio ponderado que o filósofo
Alain de Botton
confere a suas viagens sob a superfície do cotidiano desconfiam há muito
tempo que ele respira um ar mais puro que o resto de nós.
É o que fica claro no início de
"A Week at the Airport" [Uma
Semana no Aeroporto, Profile
Books, 112 págs., 8,99, R$ 26],
registro sagaz e suavemente
irônico da semana que passou
como escritor no terminal 5 de
Heathrow [principal aeroporto de Londres].
Ele admite que frequentemente deseja que seu avião atrase, para que possa ter mais
tempo para perambular pelo aeroporto. Esse anseio o situa numa minoria perversa, menor
ainda que a dos viajantes que anseiam pelas refeições servidas nos voos e preparadas nas
cozinhas da Gate Gourmet.
Trata-se de um dos vários lugares de acesso restrito que ele visita para mostrar que, "por
trás de cada voo bem-sucedido, estão os esforços coordenados de centenas de almas".
Testemunhamos partidas chorosas e chegadas cheias de
emoção, a alegria -ou o pânico- de viajantes e o tédio -ou a satisfação- de funcionários.
Desenho suspenso
Rotinas mundanas se cruzam com paixões intensificadas nesse palácio dos limiares,
onde "noções do divino, do
eterno e do significativo nos
acompanham subrepticiamente até nossos aviões".
No terminal 5 de De Botton, o banal e o sublime circulam num desenho perpetuamente suspenso.
Um casal às lágrimas faz uma pausa para comprar algumas fatias de manga. O grito de uma
passageira atrasada para o voo para Tóquio recusada no check-in evoca a sugestão de
Sêneca de que "a causa original da ira é a esperança".
E, tarde da noite, um momento "Bela da Tarde" acontece quando uma estudante polonesa de pós-graduação revela estar aguardando um engenheiro que vem a Londres para
tratar um câncer. A jovem pensadora também "está cadastrada em uma agência".
Criaturas da terra e do ar, do
medo e da esperança, o tráfego
humano pelo terminal 5 permite a De Botton nos proporcionar, em uma porção compacta
de ingredientes de primeira
classe, "um tipo de escrita que
pode fazer reportagem sobre o mundo e, ao mesmo tempo, manter-se irresponsável, subjetiva e um pouco peculiar".
A íntegra deste texto saiu no "Independent".
Tradução de Clara Allain.
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