São Paulo, domingo, 06 de dezembro de 2009

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Entre o banal e o sublime

O filósofo Alain de Botton narra uma semana passada no mais movimentado aeroporto de Londres

BOYD TONKIN

Os admiradores do equilíbrio ponderado que o filósofo Alain de Botton confere a suas viagens sob a superfície do cotidiano desconfiam há muito tempo que ele respira um ar mais puro que o resto de nós.
É o que fica claro no início de "A Week at the Airport" [Uma Semana no Aeroporto, Profile Books, 112 págs., 8,99, R$ 26], registro sagaz e suavemente irônico da semana que passou como escritor no terminal 5 de Heathrow [principal aeroporto de Londres].
Ele admite que frequentemente deseja que seu avião atrase, para que possa ter mais tempo para perambular pelo aeroporto. Esse anseio o situa numa minoria perversa, menor ainda que a dos viajantes que anseiam pelas refeições servidas nos voos e preparadas nas cozinhas da Gate Gourmet.
Trata-se de um dos vários lugares de acesso restrito que ele visita para mostrar que, "por trás de cada voo bem-sucedido, estão os esforços coordenados de centenas de almas".
Testemunhamos partidas chorosas e chegadas cheias de emoção, a alegria -ou o pânico- de viajantes e o tédio -ou a satisfação- de funcionários.

Desenho suspenso
Rotinas mundanas se cruzam com paixões intensificadas nesse palácio dos limiares, onde "noções do divino, do eterno e do significativo nos acompanham subrepticiamente até nossos aviões".
No terminal 5 de De Botton, o banal e o sublime circulam num desenho perpetuamente suspenso.
Um casal às lágrimas faz uma pausa para comprar algumas fatias de manga. O grito de uma passageira atrasada para o voo para Tóquio recusada no check-in evoca a sugestão de Sêneca de que "a causa original da ira é a esperança".
E, tarde da noite, um momento "Bela da Tarde" acontece quando uma estudante polonesa de pós-graduação revela estar aguardando um engenheiro que vem a Londres para tratar um câncer. A jovem pensadora também "está cadastrada em uma agência".
Criaturas da terra e do ar, do medo e da esperança, o tráfego humano pelo terminal 5 permite a De Botton nos proporcionar, em uma porção compacta de ingredientes de primeira classe, "um tipo de escrita que pode fazer reportagem sobre o mundo e, ao mesmo tempo, manter-se irresponsável, subjetiva e um pouco peculiar".


A íntegra deste texto saiu no "Independent". Tradução de Clara Allain.



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