São Paulo, domingo, 07 de janeiro de 2007 |
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Maldição do2º mandato?
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. O importante é que, na ansiedade de aumentar a produção, o país não cometa erros, como permitir a volta da inflação. Henrique Meirelles, entrevista à Folha, 3 de janeiro
O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva conseguirá escapar da maldição
do segundo mandato? Foram várias as vítimas
dessa urucubaca: Fernando
Henrique Cardoso, Carlos Menem, Alberto Fujimori, George
W. Bush.
O Estado dispõe de duas grandes alavancas: a fiscal (política tributária, investimentos públicos, gastos correntes) e a monetária (juros básicos, câmbio, oferta de crédito). O presidente da República está aparentemente disposto a acionar a primeira, diminuindo a carga tributária e aumentando os investimentos em infra-estrutura de transporte e energia. Hesita, entretanto, em se valer da segunda, que está em grande medida nas mãos do Banco Central -um Banco Central que talvez nunca tenha sido tão independente do governo. Viabilidade financeira A alavanca fiscal deve ser usada, mas é mais lenta, depende mais do Congresso e, se for acionada de maneira muito intensa, pode ser contraproducente. Uma diminuição da carga tributária combinada com ampliação dos investimentos públicos, não compensadas por cortes de gastos correntes, resultaria em aumento do déficit e da dívida do setor público. Dependendo da sua magnitude, esse aumento poderia minar a confiança na viabilidade financeira do governo. A alavanca monetária oferece perspectivas melhores. As taxas de juro, tanto a básica como as que são cobradas pelo sistema financeiro, continuam altíssimas e podem ser substancialmente diminuídas sem grande risco de inflação, uma vez que há muito potencial produtivo não aproveitado na economia. No mercado de trabalho, as taxas de desemprego ainda são elevadas. De uma maneira geral, as empresas apresentam margens expressivas de capacidade ociosa. Uma redução mais acentuada das taxas de juro e a ampliação da oferta de crédito aumentariam a margem de manobra da própria política fiscal. Diretamente, porque juros menores aliviariam o custo da dívida interna. Indiretamente, porque a aceleração do crescimento econômico induzida pela queda dos juros ampliaria a base de incidência dos tributos e reduziria certos gastos (seguro-desemprego, por exemplo). A diminuição do diferencial entre os juros brasileiros e os externos desestimularia a entrada e estimularia a saída de capitais voláteis ou de curto prazo. A aceleração do crescimento econômico ampliaria a demanda por importações e, portanto, por moeda estrangeira. Haveria, provavelmente, uma tendência à depreciação cambial. A combinação de um menor diferencial de juros com depreciação cambial diminuiria o custo de carregamento das reservas internacionais, facilitando as intervenções do Banco Central e do Tesouro com vistas à manutenção de uma taxa de câmbio competitiva ao longo do tempo. Nas circunstâncias atuais, não é difícil acelerar o crescimento. Falta, entretanto, combinar com o Banco Central. PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. é economista e professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas. É autor do livro "O Brasil e a Economia Internacional" (Campus/Elsevier). Texto Anterior: Cultura: A cesta onde falta tudo Próximo Texto: + Livros: Tudo sobre o primeiro retratista da capivara Índice |
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