São Paulo, domingo, 07 de abril de 2002 |
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+ livros "Holocaustos Coloniais" investiga a relação entre imperialismo e desastres ecológicos no século 19 A gênese do Terceiro Mundo
Gilberto Vasconcellos
O autor deste livro anticolonialista é um ex-caminhoneiro
que leciona teoria urbana numa universidade californiana
dos Estados Unidos. Ele trocou o pé no
acelerador "on the road" pela cátedra
forrada de biblioteca, tornando-se um
pesquisador das questões climáticas e da
crise ecológica na atualidade.
Já se chegou ao absurdo de estigmatizar o sol dos trópicos como a causa da seca. O astro-rei foi levianamente culpabilizado, e não o desmatamento que elimina o húmus da terra. Desde o século 19 a armadilha do dinheiro ludibria os colonizados em relação ao tempo e ao espaço em que vivem. Davis mostra-se familiarizado com Euclides da Cunha, os cangaceiros e o padre Cícero. Como um bom marxista que se preza, ele sublinha que o mundo "natural" deve ser sociologizado e historicizado. Isso porque a influência do clima pode ser mudada em diferentes sistemas de produção. Resumindo: "A seca hidrológica tem sempre uma história social". A seca no Nordeste foi decorrência da queima da floresta para o latifúndio escravocrata poder produzir açúcar destinado a adoçar a boca do homem europeu. Por conseguinte, as exigências econômicas do sistema colonial explicam o rompimento do ciclo das águas, ou seja, o desarranjo da estabilidade ecológica do Nordeste. Nesse aspecto, como em tudo o mais, a verdade é o todo: a rainha Vitória, o doutor Disraeli, a carvão mineral, o príncipe da Inglaterra, a libra esterlina, isso tudo tem a ver com os flagelados da seca no Nordeste esperando a vinda dos messias escatológicos. A fome é um produto da rapina colonial. Karl Marx já havia estabelecido o vínculo entre a exploração econômica nas colônias e o banco, o crédito e a mais-valia relativa nas metrópoles. É uma pena que a respeito do Brasil, excetuando Euclides da Cunha e Gilberto Freyre, o autor cite apenas os estudiosos brasilianistas; caso contrário sua abordagem sobre o misticismo dos flagelados da seca ganharia maior alento crítico com a análise de "Deus e o Diabo na Terra do Sol", o filme de Glauber Rocha realizado em 1964, justamente cem anos depois de iniciada a Guerra do Paraguai [1864-70", em que a diplomacia inglesa pirata engambelou o Cone Sul da América Latina com o pérfido fabrico da dívida externa. É uma pena também que o autor norte-americano desses "Holocaustos Coloniais" desconheça a bibliografia recente da nossa "escola da biomassa" e a reflexão energética sobre a biosfera, tendo em mira que o Brasil, a selva selvagem dos trópicos, possui a maior quantidade de água doce do planeta, cujas florestas úmidas serão necessariamente objeto de cobiça do neocolonialismo anglo-ianque neste século 21, que aliás já começou com a internacionalização das hidrelétricas brasileiras. Gilberto Felisberto Vasconcellos é professor de ciências sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) e autor de, entre outros, "Glauber Pátria Rocha Livre" (Senac). Holocaustos Coloniais 490 págs., R$ 45,00 de Mike Davis. Ed. Record (r. Argentina, 171, CEP 20921-380, RJ, tel. 0/xx/21/2585-2000). Texto Anterior: O bom uso da irritação Próximo Texto: Lançamentos Índice |
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