São Paulo, domingo, 07 de maio de 2006

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Biblioteca básica

Os Moedeiros Falsos

SILVIANO SANTIAGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há um lado autobiográfico nesta escolha, o primeiro grande romance contemporâneo que li, "Os Moedeiros Falsos", de André Gide, pois eu estava, até os 16, 17 anos, direcionado à crítica cinematográfica.
Gide dramatiza o relacionamento entre escritores na Paris dos anos 1920. "Moedeiros falsos" é a metáfora para aqueles escritores que passam a moeda falsa da cultura em lugar de passar a boa moeda. Há uma crítica velada, por exemplo, a Tristan Tzara, do movimento dadá, e ainda a Jean Cocteau.
Não existe retrato de vida literária mais complexo e rico. A relação entre gerações, entre o jovem que se quer escritor e o escritor estabelecido, está magnificamente dramatizada em Eduardo, alter ego de Gide, e os personagens Bernardo e Olívio. É uma das narrativas que melhor desconstroem a narrativa tradicional realista-naturalista. Ele opta por dar ao romance a forma de uma fuga de Bach, uma estrutura romanesca musical, na mesma linha em que depois Érico Veríssimo traduziria "Contraponto" (de Aldous Huxley) e escreveria "Caminhos Cruzados" (1935).
Em 1970, soube que havia um manuscrito de Gide no Rio. Tratava-se das 30 primeiras páginas dos "Moedeiros Falsos". Li o manuscrito, e essa leitura possibilitou que eu tivesse o fundamento de minha tese de doutorado, defendida na Sorbonne. O proprietário anos depois leiloou o manuscrito, que hoje está no Museu Britânico.


Silviano Santiago é crítico literário. Acaba de lançar "Ora (Direis) Puxar Conversa!" (ed. UFMG).

A obra
"Os Moedeiros Falsos", de André Gide. Tradução de Álvaro Moreyra. Editora Vecchi (esgotado).


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