São Paulo, domingo, 8 de fevereiro de 1998

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BRECHT POR MURILO MENDES

BERTOLT BRECHT

Quem levantou no espaço as Pirâmides, quem construiu vermelha Tebas de cem portas? Certamente, não os reis: estes não carregavam pedras.

Quem sabe os nomes dos mestres-de-obra, dos engenheiros, dos pedreiros que ergueram o Coliseu, os jardins suspensos de Babilônia, Nova York? Quanto ganhavam por dia os operários dessas moles espantosas? E quantos eram ao todo? Nenhuma lente os descobre, nenhuma téssera ou lápide os registra.

Ele quis levantar no teatro o "epos' do nosso tempo totalitário. Alguns se perguntam: ficará seu nome?

Destruir o Muro de Berlim, sigla de mil outros muros. Destruir o Muro de Berlim, levantado com o tributo de palavras, crimes e atos absurdos de todos nós.

Construir o espaço sem muralhas nem faraós e césares de camisa preta ou parda. Com siglas de bandeiras decorativas marcando a terra de um e de todos, a terra da paz, do grão e do vinho reconstituídos no seu contexto livre de censuras.


MURILO MENDES (extraído de "Retratos-Relâmpago")


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