1 Dois pesos duas medidas
Mania temos de culpar o governo por todos os nossos erros e mazelas. Ninguém discute; o Brasil foi mal, muito mal, alguns dizem até que péssimo, em Sidney. Mas é injusto dizer que o Estado é responsável por isso, não protegendo o esporte. Exagero. Senão, vejamos. Nosso melhor atleta, um centauro, que só na parte de baixo vale 6 milhões, teve todos os cuidados para seu aperfeiçoamento. Essa parte de baixo não se chama Pelé, Odvam, nem Ivanilde, uma pobreza. Com pedigree traçado há dez gerações, recebeu o nome do trisavô, Baloubet de Rouet. Ambas as partes, a parte de cima e a parte de baixo do centauro, nascidas e vividas na Bélgica, até relincham com sotaque. Mas a dupla holística _a parte de cima é indestacável da parte de baixo e vice-versa_ na hora final (como o Brasil do futebol, do vôlei, e até do iatismo) empacou. E empacou não uma, mas três vezes. Arrepiou, amarelou e travou. E travou em todo sentido. Derrubou tudo quanto é trave que podia. Mas agora, pelo bom Deus, não culpem só a parte de baixo do centauro. Quando ganha, quem vai pro pódio é a parte de cima (não tem pódio pra cavalo). Quando perde quem fica sem alfafa _ou marrom glacê_ é só a parte de baixo?

2 Preferências
Afinal por que eles temem tanto o crime organizado? Preferem o quê _o crime esculhambado?

3 Sociologia empírica
FHC (imitando Collor) também foi verificar no mercado o resultado de sua estabilidade econômica. Pegou um pão, perguntou quanto custava, o rapaz disse: "Um real". "E este aqui?", perguntou FHC. "Dois reais", disse o rapaz. "Qual é a diferença?", indagou o grande ociólogo. O rapaz respondeu: "O de dois custa o dobro".

4 Errata
Na Constituição, onde se lê: "Todo poder emana do povo", leia-se "Todo fedor emana do povo."

5 Responda depressa
Claro que estou pensando na Jorgina, mas a pergunta é pra você: Quantos anos _digamos dois, mas podem ser mais_ você estaria disposto/a a ficar numa cadeia, confortável, com bom banho, televisão de 27 polegadas, atenções especiais (afinal você sofre de asma, das coronárias, de hepatite, de catarata, de hemorróidas, bota aí a doença que preferir e arranjará médico para atestar) e depois sair com 100 milhões de reais pra viver honestamente o resto da vida?

6 O local
Decisões geradas sobre a falta de memória coletiva, elaboradas no ventre dos conchavos, paridas na cova do oportunismo.

7 CÚPOLA (pros que estão por baixo, CÓPULA)

Li sobre e vi na televisão a gigantesca reunião dos magnos do mundo. Lá fora a turba multa, como sempre, em nossos tempos, esperando pra dar e levar porrada. Lá dentro, falam. Ninguém escuta senão a si mesmo. Faz parte do simancol internacional que cada representante de um país fale na língua de seu país. De Gaulle proibiu que seus diplomatas, em cerimônias, ou em qualquer reunião pública, falassem qualquer língua que não o francês. Mas, dada a petulância do nosso ministro do Exterior, FHC, tive medo de que ele, mais uma vez, perguntasse à turba, como dizem que Ruy (o maior coco do Bahia) perguntou um dia, em Haia: "Em que língua querem que eu fale?" Mas FHC se comportou. Só não falou em português claro porque _como já apontei várias vezes_ tem visível (audível) problema de dicção; engole palavras. Como clareza de expressão, Lula é melhor que ele. De qualquer maneira essas cerimônias são sempre emocionantes; assassinos, torturadores, corruptos, usurpadores, sócios de traficantes, fechadores de congressos, estupradores da natureza e bêbados contumazes, todos falando em democracia, pregando combate às drogas, proteção ao meio ambiente e aos direitos humanos. E muita paz e amor, bixo!

P.S. Mais uma vez me curvo diante da China. Tem lá seus campos de concentração, julgamento sumário com direito a tiro na cuca, mas não tão nem aí. Dizem que é assim mesmo e não vem que não tem. Querem ensinar à gente como é que se administra um bilhão e duzentos milhões de bocas famintas, pô? Aqui cada trepada é um passo para a catástrofe demográfica. Cada morte súbita uma aleluia.