para
JC
O pior
é que dizem: rezou.
Ele
que sempre foi contra,
do contra, ateu,
agora que zerou,
creu?
Ele
que sabia que a vida é coisa
de sempre não.
Sem fórmulas fáceis,
nem saídas para a dor
de cabeça
de pensar
de ser sem crer.
Ele
que sabia que não há
aspirina
contra o bolor.
Logo
dirão que se inspirou,
e compôs de improviso
um soneto vendido,
dos que sempre enfrentou.
Dirão
ainda que se converteu
e defendeu a vida devota,
a pacificação bovina,
a prédica dos pastores.
(Verbo
e verba:
pragas velhas.)
E que
se arrependeu do pecado
de ser exato, claro e enjoado
Vida,
te escrevo merda.
Às vezes fezes, mas sempre merda.
Fingida flor, feliz cogumelo,
caga e mela.
Sempre severa e cega
merda.
Triste
é depender
de relatos carolas,
acadêmicos, cartolas.
Triste é depender
da leitura alheia,
fáceis falácias: farsas.
Triste
é depender
dos olhos dos outros,
de voz de falsas sereias.
Triste
é não poder mais
se defender.
Mas
um aqui, João,
incerto, grita
e insiste em não crer
na sua crença repentina,
que a morte (sua) desminta
a obra (sua) vida.
Um
aqui, João,
o tem por certo:
é mais difícil o não
crer, não
ceder, não
descer, não
conceder. Não.
Não,
não orou.
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