São Paulo, domingo, 09 de setembro de 2001

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A ensaísta Leyla Perrone-Moisés encerra nesta terça-feira o ciclo de conferências "Do Positivismo à Desconstrução - Idéias Francesas na América", no Instituto de Estudos Avançados (USP). Na entrevista a seguir, ela antecipa alguns pontos da discussão.

A França se esgotou como modelo de cultura no Ocidente?
Como modelo, sim; como exportadora de idéias, não. Se compararmos com o que ocorria desde o século 18, a influência da língua e cultura francesas no mundo foi diminuindo. Mas, se fizermos um balanço do século 20, veremos que a França continuou exportando idéias de modo constante: positivismo, latinidade, surrealismo, existencialismo, situacionismo, estruturalismo, pós-estruturalismo...

A existência de um centro irradiador de cultura é possível em um mundo globalizado?
Sim, na medida em que essa irradiação depende do domínio dos meios de comunicação. A globalização da informação permite, em princípio, a divulgação das diferentes culturas e as trocas entre elas. Mas, na prática, o país que dispõe de mais redes de comunicação tem mais possibilidades de impor sua língua e sua maneira de conceber a cultura.

A hegemonia econômica dos EUA implica uma hegemonia cultural?
A cultura não depende da economia, mas sua difusão, sim. Muitas das idéias que prosperam nas universidades americanas tiveram sua origem nas obras de pensadores franceses como Foucault, Barthes e Derrida. Essas idéias são reexportadas, à maneira americana, para as culturas periféricas. No Brasil, por exemplo, deixamos de ter contato direto com a França e recebemos esses autores via EUA, em inglês.

Que idéia ou imagem de cultura está sendo formada no século 21?
É ainda muito cedo para saber. Mas tudo indica que é aquela que corresponde aos interesses dos países hegemônicos: um pluralismo, um pós-colonialismo e um multiculturalismo que sejam assimilados sem perturbações excessivas da ordem social e do todo-poderoso mercado. A preocupação com as diferenças visa, em última instância, a uma uniformização.



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