São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2008

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DO CÉU À TERRA


PROMESSAS DO NOVO PRESIDENTE SÃO IMPOSSÍVEIS DE CUMPRIR E SE VOLTARÃO CONTRA SEU PRÓPRIO GOVERNO

EDWARD LUTTWAK
ESPECIAL PARA A FOLHA

As eleições presidenciais norte-americanas deveriam oferecer uma opção entre dois políticos imperfeitos, como George W.
Bush e Al Gore, ou Bush e John Kerry, e não entre um político imperfeito como McCain e um carismático messias da mudança e profeta da esperança.
Barack Obama está chegando à Casa Branca em uma grande onda de entusiasmo e expectativas muito elevadas.
Muitos de seus seguidores estão tão convencidos de seus méritos transcendentais que não deram atenção a nenhuma crítica contra ele e desconsideraram completamente sua extrema falta de experiência como senador de um só mandato.
Consideram todas essas coisas irrelevantes porque acreditam com fervor que Obama lhes dará o que mais querem, de reconciliação racial a educação de alta qualidade e atendimento em saúde para todos. Mesmo nos melhores tempos, isso teria tornado muito improvável o sucesso de uma Presidência Obama.
Na tomada de decisões da Casa Branca, não há opções milagrosas que agradem a todos.
Os gastos não podem ser elevados sem se aumentarem os impostos ou os déficits, e, embora o lobby antidéficit de banqueiros e economistas seja muito pequeno, é quase tão poderoso quanto o número muito maior de americanos contrários aos aumentos de impostos.
Quando o presidente é um sujeito comum e imperfeito, as decepções sobre suas opções orçamentárias são moderadas pelo realismo -assim são as coisas na política. Mas isso não vale para Obama. Ele não apenas prometeu melhorar a educação como também reformá-la completamente e oferecer o mais alto nível de serviços médicos para todos.
Essas promessas não são só difíceis de cumprir -são impossíveis. As escolas americanas são controladas por autoridades locais, e não pela Casa Branca, e, com os gastos em saúde já em fenomenais 17% do PIB, o que há pela frente são menos gastos, e não mais.
E estes não são os melhores tempos, mas sim os piores para um presidente ativista.

Encantamento
Se Obama tivesse assumido em 2001, quando havia um superávit orçamentário e receitas crescentes de impostos de uma economia em crescimento, poderia ter lançado muitos programas sociais para cumprir suas promessas.
Mas, com o déficit de 2009 hoje previsto em mais de US$ 1 trilhão, incluindo os US$ 700 bilhões injetados em Wall Street, nem mesmo um Congresso dominado por democratas irá financiar qualquer aumento líqüido de gastos.
Resta a política externa, é claro, em que os presidentes americanos têm muito mais liberdade de ação. Obama prometeu retirar lentamente as tropas do Iraque -e, ironicamente, por causa do sucesso da estratégia de "surge" ["escalada", reforço das tropas] de McCain, ele pode fazer isso.
Mas Obama também prometeu enviar mais duas brigadas para o Afeganistão, de modo que em 2010 poderá haver mais soldados americanos em combate do que hoje.
Obama declarou várias vezes que irá deter a iniciativa do Irã de fabricar armas nucleares, primeiro conversando com seus líderes e, se necessário, pelo uso da força.
Foi a mesma coisa com Jimmy Carter em 1977. Ele também foi projetado à Casa Branca em uma grande onda de entusiasmo em reação ao escândalo envolvendo Richard Nixon, mas enfrentou uma economia desfavorável.
Afinal, os quatro anos de Carter acabaram sendo tão decepcionantes que garantiram a vitória do republicano Ronald Reagan em 1981.
É por isso que os partidários de Sarah Palin [vice de John McCain] que já planejam a campanha de 2012 não estão totalmente descontentes com a vitória de Obama.

EDWARD N. LUTTWAK é especialista em defesa do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos, em Washington. Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves.



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