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8 - EUA hoje
Folha - Última e inevitável pergunta, sobre o atual regime norte-americano. Como é, ou o que é, para você,
ser norte-americana na era George W.
Bush?
Paglia - Vem sendo um período de
grande desilusão. Eu nasci numa família de imigrantes, meus avós e minha mãe nasceram na Itália. Por toda a minha vida me senti completamente americana e sempre me bati
contra o sentimento antiamericano
com que a gente se depara por toda
parte, incluindo as nossas próprias
universidades e a mídia. A invasão
do Iraque, então, foi um choque: que
uma divisão militar norte-americana fosse enviada sem consentimento
de ninguém fora daqui e com tamanha indiferença pelas vidas de pessoas inocentes, foi um choque do
qual ainda não me recuperei.
Talvez eu devesse deixar claro, pelo menos, que a reeleição de Bush dividiu o país e que um enorme contingente de pessoas se manifestou
contra a guerra. Foi muito frustrante
ver o Partido Democrata escolher
um candidato tão incompetente
[John Kerry] naquela campanha.
Com um candidato melhor, acho
que teríamos ganho a eleição.
Mas eles centraram a campanha
em Boston e Cambridge [Massachusetts], com toda a arrogância e esnobismo, todo o distanciamento típico
da elite da Nova Inglaterra. Gente
sem o menor jeito para se comunicar com o povo norte-americano.
Não sabem como chegar ao norte-americano comum, com aquela sua
necessidade de sentir segurança a
qualquer preço.
Bush foi reeleito porque os norte-americanos se preocupam, acima de
tudo, com a segurança interna do
país. E não confiam num democrata
para dar conta da tarefa, já que os
democratas tradicionalmente têm
mais interesse em questões de direitos humanos e cidadania.
O país continua tonto com o ataque às torres do World Trade Center. A reeleição de Bush teve muito
mais a ver com isso do que com um
suposto endosso popular à invasão
do Iraque.
Folha - Camille Paglia para presidente.
Paglia - Ah, não! Nem de brincadeira! Seria uma condenação a todas
aquelas reuniões e reuniões e reuniões... Já pensou? Um pesadelo! E
eu jamais trabalharia bem em grupo! Eu sou o que sou: uma observadora e comentarista dos fatos.
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