São Paulo, domingo, 10 de maio de 2009

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DIREITOS AUTORAIS

18 de abril de 2009
Caro Steven

Infelizmente, não consigo enxergar a contribuição positiva feita por sites que retiram materiais da internet, misturando releases para a imprensa e trabalhos genuínos de reportagem de maneira indiscriminada, sem aplicar nenhum critério de relevância ou confiabilidade.
Na melhor das hipóteses, isso é irrelevante para o problema de manter o jornalismo independente, o engajamento cívico e a responsabilidade política. Na pior, pelo fato de rasparem alguns dos lucros, os sites de notícias automatizados agravam os problemas financeiros da imprensa.
Até recentemente, eu não levava a sério a ideia de que os agregadores estariam violando direitos autorais.
Contudo, agora, vejo que os tribunais deveriam deixar claro que a agregação não paga, sistemática e concentrada do trabalho de outras pessoas -sem o acréscimo de valor editorial- não constitui "utilização justa".
Uma decisão judicial obrigaria os agregadores a pagar seus próprios repórteres e editores, pagar por outros conteúdos ou então deixarem de operar. E esse seria um modo pelo qual seria possível canalizar os lucros da agregação de volta para o jornalismo.
Como já sugeri, organizações sem fins lucrativos e filantrópicas deverão exercer um novo papel de financiar trabalhos de jornalismo investigativo e outros. Enquanto isso, diversas políticas regulatórias poderiam fortalecer o jornalismo local.
Existem muitas experiências de jornalismo real on-line. Boa parte delas vem ganhando forma em redes colaborativas, não em organizações de jornalismo tradicionais.
Tudo isso atende às demandas peculiares do ambiente on-line, e doadores privados e instâncias públicas deveriam apoiar essas inovações on-line, em vez de manter os jornais em seus formatos tradicionais.

Esfera pública
O jornalismo independente e profissional poderá sobreviver e crescer se a política oficial e instituições sem fins lucrativos encontrarem maneiras criativos de apoiá-lo. Duvido, porém, que ele consiga florescer exclusivamente com as forças do mercado e as novas tecnologias, embora os jornalistas não possam ignorar nenhum desses fatores.
No entanto, mesmo se o jornalismo independente se adaptar com sucesso, o novo ambiente da mídia provavelmente levará a um abismo maior entre a minoria que se interessa intensamente pela vida pública e o número consideravelmente maior de pessoas que se afasta por completo da esfera pública, informando-se pouco sobre política e importando-se menos ainda com ela.
Esse é um problema antigo que retornou sob forma nova. O futuro da democracia depende de sermos capazes de descobrir uma maneira de fazer frente a ele.
Paul


A íntegra deste debate saiu na "Prospect". Tradução de Clara Allain.

Leia a íntegra do debate entre Steven Johnson e Paul Starr em
www.folha.com.br/091062


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