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Ensaio de Gilberto Dupas faz diagnóstico do futuro
O tamanho da encrenca
André Singer
da Reportagem Local
O pequeno livro de Gilberto Dupas, "Ética e Poder na Sociedade da Informação", faz um
diagnóstico ágil e inquietante a
respeito do futuro.
O ponto de partida é simples. A inovação tecnológica tornou-se agente de
transformações gigantescas na sociedade contemporânea. Os
modos de produzir, de se
relacionar e até de morrer
foram chacoalhados por
milagres como o laser, a
informática e a manipulação genética.
Ocorre que a sociedade
perdeu o controle sobre a
dinâmica do saber científico, que, por sua vez, alimenta o contínuo surto de novidades
técnicas. Para Dupas, o fluxo de conhecimento foi amplamente hegemonizado
pelo capital. É nos grandes laboratórios
das empresas transnacionais que se gesta
hoje o amanhã de todos nós.
Consequência dramática
Isso
tem uma consequência dramática: o destino da humanidade está sendo regido
pela busca de lucro e poder e não pela
procura do bem, verdade e beleza, critérios que dariam um sentido progressista
ao avanço do conhecimento.
O resultado da autonomização da ciência com respeito às determinações éticas
é que o progresso pode levar à destruição, e não à realização dos sonhos de libertação humanos. Desemprego em
massa em lugar de poucas horas de trabalho criativo. Miséria em meio ao luxo,
e não dignidade para todos. Desastres
ecológicos ali onde se havia imaginado
harmonia com a natureza.
O relato de Dupas a respeito do mundo
criado pela tecnologia sob hegemonia do
capital é dos mais sombrios. Como o autor, além de respeitado economista, tem
larga experiência como consultor na
área de negócios, convém prestar atenção ao que ele diz. O problema está na
forma de pensar as saídas.
Dupas sugere que é necessário criar
uma nova hegemonia, no sentido de
uma liderança moral capaz de controlar
e conduzir o processo de
inovação tecnológica de
modo que a Justiça prevaleça sobre o interesse econômico. Quanto ao fim,
nada a discordar. A questão é como tal hegemonia
poderia ser exercida.
Democracia
O melhor meio até aqui inventado para a legitimação da liderança é a
democracia, entendida como o sistema
em que a maioria escolhe entre partidos
diferentes aquele que dirigirá o Estado.
Dupas endossa a democracia, mas assinala que ela passa por um momento difícil.
"Os partidos políticos e lideranças
mundiais (...) estão envolvidos em clara
crise de legitimidade, seja pela dissonância crescente entre discurso e práxis, seja
pela crescente influência do poder econômico nos processos democráticos,
tornada pública pelas amplas denúncias
de corrupção e suborno."
Não há como superar os escolhos vislumbrados por Dupas sem enfrentar o
problema da democracia. O livro não o
faz. Tem, contudo, o inegável mérito de
apontar com lucidez e fluência o tamanho da encrenca em que estamos metidos. O que não é pouco.
Ética e Poder na
Sociedade da Informação
152 págs., R$ 14,00
de Gilberto Dupas. Editora da
Universidade do Estado de São
Paulo (pça. da Sé, 108, CEP
01001-900, São Paulo, tel. 0/
xx/11/ 232-7171).
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