São Paulo, domingo, 11 de março de 2001

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MILLÔR

Olhaí, rapaziada, não é melhor dar uma outra olhada no mapa? É aí mesmo a Terra Prometida?

1) Segunda oportunidade
Repito, rapaziada, a Terra Prometida não é aquela em que vocês já estavam, e que tem até um muro sagrado; Wall Street?

2) Segunda opção
Um bilhão de cristãos, um bilhão de muçulmanos, trinta milhões de judeus, todos pensando que acreditam en Deus. Sei não. Certo mesmo é que não acreditam em gente

3) E depois de amanhã?
É você quem diz: a cada dia que passa as coisas ficam muito piores. Sou eu quem digo; o negócio é aproveitar o dia de hoje, muito melhor.

4)Instante fatal
Lendo artigo do jornalista esportivo francês Christophe Barbier, narrando o momento decisivo da cobrança de um pênalti, resolvi traduzi-lo e parodiá-lo.
Acho este artigo oportuno, no momento em que o futebol se transformou numa porcaria esportiva em que, depois de meses de manchetes, fortunas em contratos, licções de falta de esportividade pra todo lado, as partidas, depois de noventa minutos de tédio, são decididas em pênaltis. Na última que vi foram precisos 25 xutes pra decidir a disputa. Por que não decidir logo na porrinha, o grande jogo nacional?

Cantada em prosa e verso (hoje, sobretudo filme e televisão), a angústia do goleiro no momento da cobrança de um pênalti não é segredo pra ninguém. Mas engolir um pênalti é o esperado. Se a bola atravessa a linha fatal ninguém culpa o goleiro desde que a torcida sinta que ele se esforçou. Seu esforço é sempre visível e muitas vezes aplaudível, mesmo quando não consegue evitar o tento. E se a bola vai pro espaço, ou bate numa das traves, a galera aplaudirá sua sorte, sinal do além que distingue os grandes defensores. E se, mais que isso, ele detém a bola, defende o pênalti, é um Hércules, um Deus do esporte, um milagre da natureza (com direito a gigantesco aumento no valor do passe).
O artilheiro tem todo outro destino. Marcar um pênalti não é mais do que sua obrigação. No futebol marcar gol de pênalti é quase o mínimo exigido pela confederação pro atleta ser considerado um profissional. Falhar, ao contrário, significa que não merece o salário que ganha, o pão (ou a bela namorada) que come. Um avante que perde um gol feito é um fracasso, o que perde um pênalti é um traidor do clube. Arrisca a vergonha, a punição de ofensas na rua, até agressões físicas. Daí a angústia do artilheiro na hora da cobrança do pênalti ser bem maior do que a do goleiro. A dúvida metafísica - à direita ou à esquerda? Com violência ou na malandragem? De bico ou de lado? Examina com exatidão o jeito de colocação do goleiro ou usa seu melhor estilo e seja o que Deus quiser? Mas há a alternativa inevitável - chutar raspando bem abaixo da trave superior ou visar um dos extremos laterais? Mas raspar bem abaixo da trave superior significa a possibilidade muito mais ampla de raspar acima, e o extremo lateral de dentro não raro se torna o extremo de fora. E como, quase sempre, o goleiro se prepara pra saltar pra um dos lados, certos cobradores visam exatamente o meio do alvo. É assim que muitos goleiros, petrificados pelo medo em sua posição, se tornam gloriosos simplesmente porque recebem a bola em pleno peito. Variação do herói militar que defende a pátria oferecendo o peito a balas. E sobrevive.

5) Segurança
Te pedem um prefácio ou te pedem um pára-raios?

6) Responda depressa:
Qual é a diferença entre não me lembro e me esqueci?
Vamos ver: não me lembro pode ser alguma coisa que se perdeu na memória. Me esqueci é alguma coisa que atiramos deliberadamete na lixeira do psíquico.

7) Timbalando
Baiano é o único cidadão que sabe realmente o que fazer com o lazer. Nada.

Site do Millôr: www.uol.com.br/millor



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