São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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ECOLOGIA

por Gilberto Vasconcellos

1. A tal da dignidade humana do mister Bush significa apropriar-se do petróleo do Iraque, a segunda reserva mundial, esticando assim por mais 20 anos para os Esteites (e arrasando a cultura árabe) o inevitável ocaso da era petrolífera, e com isso garantindo a emissão monopólica do dólar. É o terrível trinômio: petróleo, dólar e capacidade bélica de matar.

2. O verdadeiro terrorismo é a depredação da natureza causada pela queima dos combustíveis fósseis, carvão mineral e petróleo, os quais provocam o efeito estufa e a chuva ácida, comprometendo o equilíbrio da biosfera. A energia nuclear antes agrava do que resolve o problema com sua apocalíptica economia do plutônio.

3. Os países capitalistas hegemônicos, tendo à frente os EUA, são os maiores poluidores do planeta, lançando 6 bilhões de toneladas de carbono na atmosfera. Detalhe: o homem é o ar que ele respira.

4. A questão energética conecta-se indissoluvelmente à ecológica. Dentro de seu próprio território, os EUA não têm outra alternativa para substituir o combustível sujo e poluidor: 80% de sua energia elétrica dependem da queima de carvão mineral. É tíbio o Sol do Pentágono. A energia vegetal encontra-se alhures, com abundância de água doce.

5. A volúpia pela agressividade. O tesão de Tânatos. Dispensável é fazer a psicanálise do brinquedo com que mister Bush se entreteve em sua infância. Seu desespero espelha o desespero de uma civilização industrial ancorada num combustível em fase de exaustão: o petróleo. Energia é poder.

6. O imperialismo, e não o eufemístico império, cada vez mais é determinado pela cobiça territorial. Onde estiver a derradeira gota de petróleo, lá estará a ameaça da intervenção armada ou a armadilha financeira da "dívida externa".

7. Os países situados na zona fria e temperada da Terra não têm como resolver a crise energética do petróleo e a crise ecológica da agressão à biosfera. Um dos mandamentos bushianos apela para a aliança dos "centros do poder global" de alguns países europeus que dependem do petróleo do Oriente Médio.

8. Apesar de todo o horror, Bush está na dele quando insiste nos desafios do século 21, o qual ineludivelmente assistirá à mudança do eixo eco-geopolítico-energético do planeta: do Oriente Médio para as florestas úmidas dos trópicos. Quanto a isso, o maior país tropical, o Brasil da América do Sol, não estamos com nada porque, apatetados, continuamos a ignorar nosso tempo e nosso espaço.

Gilberto Felisberto Vasconcellos é professor de ciências sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) e autor de "Biomassa - A Eterna Energia do Futuro" (ed. Senac).


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