São Paulo, Domingo, 14 de Fevereiro de 1999
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RISCO NO DISCO

O homem alheio

LEDUSHA SPINARDI

Que pensamentos são esses, que permanecem comigo, velados à sombra do tempo sonhando sobre meu ventre como se fosse seu trono? (Serão os do homem alheio, avesso ao uivo do mundo em generoso abandono?) Conheço seu banzo inato, fome paradoxal de freios, que alimentei com o leite ingênuo dos meus sentidos. Seu sol sorriu no meu sono, nas curvas e retas áridas, diluindo o caldo turvo das reticências omissas. Ondulante ausência aflita, que se dita ao vento inverso, verte um perfume volátil e nos vãos dos meus lençóis me embaraça e me visita. O que sem sinal de fim teve indelével começo, espero que a vida refaça, nessa palavra linda que por sorte e por direito nos redime e ameaça: ainda.


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