São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997.



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Entrevista por ocasião da morte de Stálin

FRANCIS PONGE

- Que figura fará Stálin na história?
Como Diógenes não fez escola, as multidões estão tão afastadas quanto nunca da sabedoria que consistiria em pedir a Alexandre -ou Stálin- que não esconda o Sol. O que é, efetivamente, hoje ainda, a história, senão essa pequena cloaca na qual o espírito do homem gosta de chafurdar? Mas não manterão nela por muito tempo minha cabeça, sinto muito...
Stálin, provavelmente, nela fará boa figura. Lá esteve em sua cumbuca. Graças a seus próprios cuidados e aos de sua confraria, já durante a vida, mais do que ninguém. Muito longe de nos espantarmos, também não podemos silenciá-lo (nós, seus contemporâneos).
Esse herói encontrará, pois, seu lugar naquela parte do dicionário consagrada aos nomes próprios, onde se está mais perdido que cusco em procissão. Como outros que portam cruz ou tiara, ele ali figurará com o blusão e o boné proletários, que o distinguem.
Porém é
a outra parte do dicionário que nos interessa, como vocês sabem. Aquela justamente na qual se encontram o Sol, a água, o côncavo da mão. -à glória dos quais, cada manhã, e em prol do homem e de nós mesmos, se trata apenas de quebrar deliberadamente nossa tigela.


Tradução de Michel Peterson e Ignacio Antonio Neis.



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