São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

+ poema

de Régis Bonvicino

O sono

Durmo acordado
acordo dormindo
a manhã não é manhã
acordo súbito

sempre
é um sono entre dentes
com vasos de férulas
no criado-mudo

durmo me matando
acordo de ressaca
engolindo o estômago
não durmo

o sono não se inicia
a cabeça me soletra
pesadelos
ouço a música

de um banjo
feito de uma lata opaca
durmo com medo
de não dormir
de acordar abrupto
vivo em estado de vigília
insônia ínsita
a me fertilizar narciso

a insônia é vício
pulsos cortados
gilete, comprimidos
irrompe um suicídio

qualquer coisa me invade
o sono não existe
preciso fumar mais
um cigarro

musgo viscoso da memória
escolhido a dedo
a memória me molesta
desleal, pesada

o sono é pisadeira
durmo acordado
acordo letargo
e a noite pisa em mim


Texto Anterior: Lançamentos
Próximo Texto: + cultura: Beabás do capitalismo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.