São Paulo, domingo, 15 de abril de 2001

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MILLÔR

Não há dúvida - o primeiro dia em que o sujeito deixa de fumar é terrível. Mas o segundo é maravilhoso, ele volta a fumar.

1) Entrevista 1
FhC: Estou otimista quanto ao nosso futuro imediato.
Repórter: E porque essa expressão apreensiva?
FhC: Meu otimismo nunca deu certo.

2) Brasil à sombra da dúvida suprema
Pessoas se perguntam - ocasionalmente me perguntam - em quem confiar no momento em que não se confia na própria sombra, nem na luz que faz a sombra. Mas não convém ser assim pessimista, ecôo eu, vosso modesto interlocutor. Ontem mesmo eu vi um cara (não via há muito tempo, mas é até meu amigo, não digo o nome porque pode ocasionalmente ler esta página e achar que estou dedurando ele, embora essa deduragem seja para apontá-lo pelo que é, um raro e extraordinário homem de bem) que serve. Da minha janela pude examiná-lo de longe durante algum tempo, simpático como sempre, saudável, esse homem culto, claro de idéias, experiente, generoso, olha - pensei - esse poderia salvar o Brasil. Mas por que estava correndo desse jeito a essa hora da noite?

3) Estatística
No recente relato do IBGE, entre as atividades principais dos brasileiros por que não relatou a principal - a mendicância?

4) Consulta
Médico: A senhora está com Aids.
Cliente: Eu, com Aids? O senhor está de porre! O que é que está pensando de mim? Exijo uma segunda opinião.
Médico: Pois não - a senhora também é histérica.

5) Objetivo
Vou revelar: depois de décadas de trabalho já estou no segundo milhão de dólares. Desisti do primeiro.

6) Entrevista 2
Repórter: Quando você esteve mais perto da morte?
MF: Foi no dia em que levei três tiros, à queima-roupa, de dois policiais fardados (meganhas, na época) que, em certa madrugada, não foram com a minha cara (comentário do leitor: se todo mundo que não vai com sua cara lhe der três tiros você vai ficar muito esburacado).
O fato aconteceu na Francisco Sá, estação central da Linha Auxiliar, na Praça da Bandeira, Rio, eu tinha 13 anos de idade.
Um perfeito melodrama. Eu, menino órfão (lágrimas) vinha de um dia duro de trabalho e de uma noite de estudo no Liceu de Artes e Ofícios, morto de fome e de sono. Com os trocados que tinha tomei um cafezinho e comi um pastel no quiosque da estação. Os dois policiais grandões, visivelmente alcoolizados, exigiram que eu pagasse a despesa deles. Me recusei por dois motivos, um duvidoso, coragem cívica, outro inegável, tinha gasto meu último disponível. Os tiros vieram em cima de mim, corri como um desgraçado, e consegui um feito notável - passei ao contrário pela roleta da entrada da estação!
Mudei muito depois disso, a polícia também. Eu, espero, pra melhor. A polícia, estou certo, pra muito melhor. Imaginem o que era!

7) Cayman $ Cayman
Gente espantada com o "dossiê Cayman". Mas é fácil de explicar. Antes "eles" preferiram não se mostrar muito indignados porque pensaram que o dossiê era verdadeiro. E jogaram pra baixo do tapete.
Agora, dois anos depois, quando se descobriu que o dossiê é falsificado, FhC se mostrou enojado, falou que tudo está podre, e quer que os autores desse dossiê sejam apanhados de qualquer maneira.
Mas que fique claro: um dossiê ser falso não impede que não haja um verdadeiro.

Site do Millôr: www.uol.com.br/millor



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