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+ sociedade
Crise dos três maiores diários da França, onde nasceu o jornalismo moderno, aponta para a falência mundial da combinação de publicidade e altas vendagens, sobre a qual tem se apoiado a mídia escrita desde o século 19
Agonia de um ciclo histórico
LAURENT GREILSAMER
DO "LE MONDE"
Em poucos meses, três grandes
títulos da imprensa cotidiana
francesa sofreram importantes mudanças. O "Le Figaro"
foi comprado pelo industrial Serge
Dassault. O "Le Monde" se prepara
para uma recapitalização no valor de
50 milhões de euros e trocou o diretor de redação. O "Libération", em
busca de um acionista abalizado, estuda a proposta do homem de negócios Edouard de Rothschild, que
quer investir 20 milhões de euros no
desenvolvimento do título.
Poderia ser uma simples crise de
crescimento. É muito mais grave. O
modelo econômico inventado há
mais de um século e meio pelo parlamentar e homem de imprensa Emile
de Girardin (1806-81) hoje está abalado. Intempestivo e genioso, Emile
de Girardin, depois de várias tentativas, lançou com sucesso, em 1º de julho de 1836, o diário "La Presse", reduzindo seu preço de venda à metade do de seus concorrentes.
Antes de todo mundo, no campo
da imprensa, ele compreendeu a necessidade de baixar o preço de seu
jornal para multiplicar o número de
leitores e, conseqüentemente, atrair
mais publicidade para financiar em
parte os custos de publicação.
O sucesso foi imediato. Trinta
anos depois, a descoberta do telégrafo (garantindo a circulação de informação à velocidade da eletricidade)
e o aperfeiçoamento das rotativas
(permitindo a impressão contínua, e
não mais folha por folha) terminam
de revolucionar a paisagem.
Havia nascido a imprensa moderna, com seu gosto pela reportagem e
as novidades, pelo sensacional e as
manchetes. Ela vive desde então sobre um duplo teorema, aparentemente muito simples: vender mais
barato para vender mais; financiar a
empresa ao mesmo tempo pela venda do jornal e pela publicidade. Mas
esse modelo hoje está comprometido, no plano do conteúdo quanto no
plano econômico. E tudo leva a crer
em um fim de ciclo histórico.
Há tendências claras no caso francês. A receita publicitária dos jornais
nacionais diminui ano a ano. O fluxo
do maná publicitário para as mídias
audiovisuais e as revistas se combina
com o declínio dos anúncios classificados para penalizar a imprensa nacional.
De uma posição de monopólio, a
imprensa cotidiana passou para
uma situação de sitiada. Os anos
1930-50 foram marcados pelo constante desenvolvimento das redes de
rádio, os anos 60 pela implantação
da televisão e das revistas de notícias, os 90 pelos sites e os anos 2000
pelos jornais gratuitos.
Nascidos em um terreno político e
literário altamente passional, os diários ainda são vistos como engajados demais. Muitos leitores não se
encontram mais nos jornais, considerados ora parciais, ora insípidos. E
os mais jovens freqüentemente julgam sua leitura demasiado difícil e
distante de suas preocupações.
Girardin, sempre ele, havia decretado que era preciso pôr em prática
uma nova idéia por dia. Sim, mais
que nunca. Até o Japão, modelo extraordinário e exótico, dotado dos
cinco jornais de maior circulação do
mundo, começa a conhecer uma leve erosão de seu leitorado.
Já a Europa se aventura em três caminhos. Os jornais britânicos preferem hoje o formato tablóide, que teve tanto êxito na imprensa popular.
Perdem sua soberba e uma marca de
identidade centenária, mas ganham
leitores. Os alemães experimentam a
passagem da edição em formato
grande para uma versão reduzida,
mais leve e barata. Italianos e espanhóis optam pela venda casada de
jornais com coleções de livros, enciclopédias ou DVDs. Embora não
atraia muitos novos leitores, o método tem o mérito de inchar o faturamento e os benefícios dos jornais.
Mas as reações desses países envolvem mais a forma que o conteúdo: a dimensão marketing supera a
dimensão intelectual. Elas se baseiam em um esforço empresarial,
que reduziu fortemente os custos de
produção e de distribuição. Em suma, ainda não propõem uma réplica
definitiva à nova concorrência das
mídias eletrônicas.
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.
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