UOL


São Paulo, domingo, 16 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Da noite para o dia

Dormir é bom, mas é só para quem pode. É para poucos. Você foi dormir e dormiu. Você sabe: o sono é o patrimônio de um dia inteiro, que você guarda em um cofre onde não entra luz -o salário da jornada que você segura firme, no punho fechado sob o travesseiro, enquanto atravessa até o outro lado da noite.
Só que há também o sonho. Sem querer, você sonhou. O sonho -você sabe, está cansada de saber-, o sonho é um imposto automático: recolhe, à força e na fonte, uma percentagem do que você conseguiu reter durante o dia.
Você sonhou com o que mais queria para si, com o que desejava tanto que nem o fogo faria sua mão abrir os dedos.
Você acordou mais pobre. Para se consolar, me disse:
-Aposto que tudo isso é só uma parábola.
-Não aposte, que vai perder.
-Azar, perco só na parábola.
-Pior: na parábola, você ganha.


Rubens Figueiredo é autor de "Barco a Seco" (Companhia das Letras) e "Essa Maldita Farinha" (editora Record), entre outros.


Texto Anterior: Estradas sem fim
Próximo Texto: Bernardo Carvalho: O sonho de Meng Tian, construtor da Muralha da China
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.