O cruel e temido general Meng Tian, que chegou a comandar um exército implacável de 300 mil homens e recebeu do primeiro imperador da dinastia Qin a incumbência de construir a Grande Muralha da China, uma noite sonhou que, ao revisar os cálculos de seus engenheiros, descobria um erro crasso que lhes havia escapado: no dia em que terminassem as obras, o imperador e seu exército estariam encurralados dentro da própria muralha. Se todos os trechos fossem unidos como previsto, a muralha acabaria por aprisioná-los num imenso círculo, em vez de protegê-los. Era preciso interromper as obras antes que fosse tarde.
Aterrorizado pela claustrofobia daquela idéia, o general abandona o canteiro de obras e parte às pressas para prevenir o imperador pessoalmente. Passa anos tentando atravessar muros e pátios e palácios e aposentos, num esforço insano contra o tempo, enquanto a construção da muralha avança e os cerca lentamente. A cada nova porta que Meng Tian abre, descortina-se um novo pátio, e a cada pátio que vence, um novo palácio, e a cada palácio em que entra, um novo aposento, e a cada aposento, uma nova porta, e assim por diante. E se por fim consegue chegar ao centro do palácio mais interior, o que já é inimaginável, é só para descobrir que o imperador morreu faz tempo.
Meng Tian acorda do pesadelo num sobressalto e, ainda ofegante, depara com um mensageiro a seu lado. Veio lhe comunicar não apenas a morte do imperador e decretar a sua prisão, por ordem do novo imperador, mas também anunciar o que só seria escrito um século depois, pelo célebre historiador Sima Qian: que o general Meng Tian acabaria se suicidando na prisão, desesperado, pondo fim a uma carreira sanguinária a serviço do primeiro imperador da dinastia Qin, sem saber ao certo do que era acusado, depois de muito repetir, como um alerta e sem que lhe dessem ouvidos, que seu único crime foi ter iniciado a construção da Muralha da China.
Meng Tian acorda do pesadelo num sobressalto e, ainda ofegante, depara com um mensageiro a seu lado...