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Manual de saúde para evitar médicos e remédios
Membro ilustre da Academia Brasileira de Letras, Silva Mello não foi, no entanto, um médico teórico de gabinete, um nefelibata acadêmico; ao contrário, foi um
excepcional clínico dotado de um tirocínio a toda prova. Ele possuía o camoniano "saber de experiência feito". Cuidou dos pobres em hospitais públicos, assim como teve clientela no meio das gentes abonadas do Rio
de Janeiro. Levou uma vida material folgada (com chofer, mordomo, criadagem) em seu casarão no bairro de
Cosme Velho. Vejamos alguns de seus sábios preceitos
quanto à saúde condicionada pela alimentação:
"1. Gaste mais com comida e menos com remédios
(96% multinacional) criados pelo mercantilismo farmacêutico. A vitaminomania é uma praga que pode ser
responsável pelo diabetes. Muitas enfermidades são
criadas pelos médicos.
2. O segredo dos bons dentes é a mastigação. A degradação dos dentes ou cárie surge como consequência da
industrialização dos alimentos e o seu desnaturamento.
Os esquimós desconhecem a escova de dentes e são dotados de excelente dentição. A cárie se propaga no mundo a partir do século 16, o século do descobrimento e da
invenção da imprensa.
A goma de mascar ou chiclete representa o ponto alto
da tragédia alimentar industrializada, levando o imbecil
a mastigar fora das refeições uma coisa que não é comida. É um verdadeiro onanismo mandibular essa invenção americana divulgada pelo cinema, espécie de ejaculação salivar para ajudar a dar cusparada a grande distância, o que já foi um hábito nos EUA mesmo em lugares públicos.
3. Evite sucos de fruta. É melhor comer a fruta do que
tomar o seu caldo.
Passar da mamadeira para a colherinha significa comumente uma luta entre mãe e filho. O mapa da nossa
boca começa na infância. Burrice contra o instinto e a
natureza é tacar flúor nas boquinhas das crianças, causando efeitos tóxicos acentuados como maxilares sem
prumo, prejudicando a formação dentária mesmo antes de seus dentes nascerem. População de banguelas.
Raro a pessoa que não usa prótese ou dentadura, resultando daí a existência melancólica da velhice sem dente,
isto é, o reinado da boca desvitalizada.
4. Deixe o liquidificador elétrico para os recém-nascidos. A mastigação conserva os dentes. É por isso que o
pão guardado e o pão torrado são os melhores.O pão
não deve ser molhado para amolecer.
5. Nada há pior à saúde do que o arroz alvo e descorticado, o açúcar refinado, as farinhas brancas e pulverizadas, assim como é indiscutível a superioridade do sal
marinho sobre o sal refinado.
6. O pãozinho pode ser substituído perfeitamente pelabroa de milho, o beiju, o cuscuz, o angu, o aipim, a batata-doce.
7. A banana crua, comida com alimentos salgados, é
uma esplêndida fórmula culinária. Alimento prodigioso, a soja é o mais aconselhável. Deveria ser preferível ao
feijão.
8. Saúde é agricultura. Quem precisar de vitaminas, é
melhor procurá-las nos alimentos. O caju e a goiaba são
riquíssimos em ácido ascórbico, isto é, em vitamina C.
9. Fuja dos tabus e fanatismos alimentares. Coma de
tudo, carnes, vegetais. Varie a alimentação e desconfie
dos apóstolos que pregam o vegetarismo e condenam o
uso da carne.
10. A gula mata mais do que o automóvel.
11. O bom paladar não é necessariamente o dos ricos.
Existe por aí um montão de gente rica que não sabe comer, ignorantes e analfabetos em matéria de educação
alimentar.
12. No momento de comer, guie-se pelo apetite e não
pelo relógio.
13. A arte da comida vale mais do que a ciência da nutrição. As doenças degenerativas (câncer, diabetes, adiposidade, hipertensão, arteriosclerose) estão em ascensão, enquanto as doenças microbianas e parasitárias,
em via de desaparecimento.
14. É satânica a cumplicidade de interesses entre a indústria de alimentos e a indústria de medicamentos. O
mal danado que faz à felicidade do corpo é o uso de
substâncias corantes, manteigas e margarinas coradas
-sem amarelo, que contém a química benziquimone,
suspeita de ser carcinogênica. De resto, todos os mutagenos são carcinógenos, assim como todos os carcinógenos são mutagenos".
A esses preceitos do grande dietologista do século 20,
cabe prestar atenção ao seguinte detalhe: o octogenário
Antônio da Silva Mello usufruiu de uma longa velhice,
sadia e tranquila. Casado, não deixou filhos, tal qual
Machado de Assis.
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