JAMIL MALUF
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não tenho um livro mais importante para comentar. Tenho títulos que vêm me acompanhando durante minha vida e se tornaram referências fortes para mim. Um deles, sem dúvida, é a edição completa dos poemas de Fernando Pessoa.
Desde meu primeiro contato com sua obra, que foi na adolescência, identifiquei em Fernando Pessoa alguém que conseguia verbalizar à perfeição os atribulados e conflitantes sentimentos que acompanhavam meu dia-a-dia. Mais que um prazer meramente intelectual, perfeitamente cabível quando se lê um poeta desse quilate, a obra de Fernando Pessoa me atraiu por meio de um processo violento de identidade pessoal: seu mundo passou a ser meu universo. No início foi um tanto assustador, pois tal postura era uma fato inédito, que não se coadunava muito bem com minha personalidade.
Com o tempo, passei a aceitar essa atração como um fato consumado. Assim como a música que, muito além de profissão, se transformou na linguagem natural que eu uso, desde sempre, para me comunicar com a pessoas, a obra de Fernando Pessoa, longe da abstração das notas musicais, me colocou concretamente neste mundo.