São Paulo, domingo, 17 de janeiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Leia trecho de carta do diplomata sobre o litígio

Ao Ministério das Relações Exteriores.
Reservado.
Roma, 15 de Junho de 1904.
Sr. Ministro,

"[...] Eu me tinha preparado para diversas soluções desse gênero, mas nenhuma envolvendo a margem povoada de Tacutu [rio localizado na fronteira entre o Brasil e a Guiana]. A menção deste rio causou-me assim, durante a leitura que fazia o Rei, a mais estranha surpresa, a mesma que terá causado a V.Ex. o meu telegrama anunciando-o. O rei com efeito adotou a "linha Schomburgk" [fronteira entre a Guiana e a Venezuela, fixada em 1841 pelo explorador alemão Robert Schomburgk (1804-65)], como em 1843 a reclamara de nós lorde Aberdeen; isto é, adotou como fronteira o que foi por muito tempo a pretensão máxima inglesa.
Estabeleceu-se a Grã-Bretanha no território do Amazonas sem nos dar acesso ao do Essequibo [rio da Guiana], o que só por si bastaria para mostrar a desigualdade da pretendida "divisão equitativa". Com efeito, muito mais que nos deixou a sentença nos oferecera por vezes a Inglaterra e nós recusáramos. Ainda em 1900, mr. Villiers me fez a proposta de que V.Ex. teve conhecimento, deixando-nos, exceto o trecho entre o Mahu, o Curiuáca, o Viruá e o Tacutu [rios da fronteira entre Brasil e Guiana], tudo que obtivemos agora e mais todo o território entre o Tacutu e o Rupununi ao sul do Pirara [região da Guiana, na fronteira com o Brasil].
Não tenho hoje tempo para comentar a sentença que o rei proferiu contra nós, dando razão aos ingleses em tudo o que fizeram desde 1840 para haver as savanas ao oeste de Rupununi; disto, porém, estou dispensado pelo profundo conhecimento que V.Ex. tem desta questão.
Tenho a honra de reiterar a V.Ex. os protestos da minha respeitosa consideração."

Ass. Joaquim Nabuco
Ao Exmº Sr. Barão do Rio Branco, ministro e secretário de Estado das Relações Exteriores


Texto Anterior: + inédito: Vã fronteira
Próximo Texto: Os Dez+
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.