São Paulo, domingo, 17 de julho de 2005

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SEQÜESTRADORA DE HOMENS

TRAJANO VIEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na última vez em que conversei com Haroldo de Campos, ele reafirmou-me sua intenção de traduzir o "Agamêmnon" de Ésquilo. Seu interesse pela tragédia era antigo. Há anos adquiríamos edições da obra, e lembro-me de como ficou animado ao receber a versão do [poeta inglês] Robert Browning [1812-1889].
Como ocorria às vezes quando traduzia a "Ilíada", agradava-lhe partir de um trecho que apresentasse grande dificuldade. Nesse caso, não foi diferente. Motivado talvez pela abertura do sétimo Canto de Ezra Pound, que gostava de citar, onde o poeta norte-americano introduz em grego a passagem de Ésquilo ao se referir à Eleanor da Aquitânia, Haroldo recriou em português o trocadilho com o nome de Helena.
Ésquilo associa o nome da personagem a três vocábulos escritos em seqüência: "Helenas, hélandros, heléptolis". São três palavras compostas, cuja primeira parte apresenta a raiz "hel-", referente ao verbo "haíreo": "tomar", "pegar", "reter", "capturar". Os termos significariam algo como: "seqüestradora-de-nau", "seqüestradora-de-homem", "seqüestradora-de-cidade".
Haroldo não chegou a realizar o traslado da peça, mas incorporou a tradução das três palavras num dos poemas da série "Lendo a Ilíada", que tem Helena e Páris como figuras centrais. Esse texto faz parte de um alentado volume de poemas inéditos do escritor, em fase de organização. Apresento também a tradução que fiz da estrofe (versos 681-698) do "Agamêmnon", na qual Ésquilo busca o indício ("omen") no nome ("nomen") de Helena.


Trajano Vieira é tradutor e professor de língua e literatura gregas na Universidade Estadual de Campinas.


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