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SEQÜESTRADORA DE HOMENS
TRAJANO VIEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Na última vez em que conversei com Haroldo de
Campos, ele reafirmou-me sua intenção de traduzir o "Agamêmnon" de Ésquilo. Seu
interesse pela tragédia era antigo. Há
anos adquiríamos edições da obra, e
lembro-me de como ficou animado
ao receber a versão do [poeta inglês]
Robert Browning [1812-1889].
Como ocorria às vezes quando traduzia a "Ilíada", agradava-lhe partir
de um trecho que apresentasse grande dificuldade. Nesse caso, não foi
diferente. Motivado talvez pela abertura do sétimo Canto de Ezra
Pound, que gostava de citar, onde o
poeta norte-americano introduz em
grego a passagem de Ésquilo ao se
referir à Eleanor da Aquitânia, Haroldo recriou em português o trocadilho com o nome de Helena.
Ésquilo associa o nome da personagem a três vocábulos escritos em
seqüência: "Helenas, hélandros, heléptolis". São três palavras compostas, cuja primeira parte apresenta a
raiz "hel-", referente ao verbo "haíreo": "tomar", "pegar", "reter",
"capturar". Os termos significariam
algo como: "seqüestradora-de-nau",
"seqüestradora-de-homem", "seqüestradora-de-cidade".
Haroldo não chegou a realizar o
traslado da peça, mas incorporou a
tradução das três palavras num dos
poemas da série "Lendo a Ilíada",
que tem Helena e Páris como figuras
centrais. Esse texto faz parte de um
alentado volume de poemas inéditos
do escritor, em fase de organização.
Apresento também a tradução que
fiz da estrofe (versos 681-698) do
"Agamêmnon", na qual Ésquilo
busca o indício ("omen") no nome
("nomen") de Helena.
Trajano Vieira é tradutor e professor de língua e literatura gregas na Universidade Estadual de Campinas.
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