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Newark: Alegrias do culto brasuca
"Pedi a Deus para me casar com um homem americano, alto, branco, porque estava cansada de brasileiro; em 20 minutos encontrei meu marido"
DO ENVIADO ESPECIAL AOS EUA
A banda toca no palco
que serve de altar e
tem como fundo a
pintura de uma cascata, enquanto três
mulheres com cabelo até a cintura evoluem numa coreografia sincronizada e ondulante
diante da platéia de fiéis que
veio assistir ao culto, numa
noite chuvosa de quarta-feira,
no segundo andar da Igreja
Pentecostal Missionária de
Língua Portuguesa, no tradicional reduto luso de Ironbound -hoje dividido com brasileiros e hispânicos-, em Newark, Nova Jersey.
"Aqui é diferente", diz Nádia
Adler, há três anos nos EUA.
Casada com um executivo
americano que conheceu no
México, Nádia percorre 20 quilômetros de carro para vir de
sua casa, numa área residencial
de Summit, até Ironbound.
"Igreja americana é muito sem
graça. Lá onde eu moro só tem
americano. Aqui tem louvor",
afirma.
A Igreja Pentecostal Missionária de Língua Portuguesa foi
fundada em 1992 pelo pastor
Zeny Tinouco e sua mulher,
Maria do Socorro. Hoje conta
com mais três sucursais na região metropolitana de Nova
York -em Astoria, Garden
City e Manhattan.
Quando saiu de Brasília, com
a mulher e os filhos, há 17 anos,
o pastor deixou para trás 28
igrejas, que hoje são administradas pelo irmão, sob a denominação Ministério da Fé.
Dos aproximadamente 225
milhões de adultos nos EUA,
34 milhões nasceram fora do
país e cerca de 17 milhões não
dominam a língua inglesa. Entre os hispânicos, apenas um
quarto é fluente em inglês.
Os cultos na Pentecostal
Missionária são celebrados em
português, o que não impede
que muitos brasileiros usem,
por força do hábito, a interjeição "yeah" antes de cada resposta que dão, em português.
Sou recebido pelo diácono
Adair Braz, de Anápolis (GO),
que está nos EUA há cinco anos
e, na igreja, há três. Já trabalhou em construção civil e agora é empregado de uma fábrica
de camisas. Ainda está ilegal.
Exportador de igrejas
Conseguiu trazer a mulher,
mas o filho de cinco anos ficou
no Brasil com a avó. Não pode
visitá-lo, sob o risco de não conseguir voltar aos EUA.
Braz já era evangélico antes
de imigrar. Pertencia à Igreja
Pentecostal do Brasil para Cristo. "Acabaram de abrir uma em
Nashville", diz, orgulhoso. Para
brasileiro? "Não! Para americano!" O Brasil está exportando
igreja para cá?
"Oh, yeah. É o segundo maior
exportador de igrejas depois
dos EUA. Tem igreja aqui, na
África, na Rússia. E tem feito
diferença, viu? A igreja brasileira se destaca. Na americana, o
culto é em inglês. Aqui, tem tradutor simultâneo", diz.
O pastor Tinouco está viajando. É o filho mais velho, Fábio,
quem celebra o culto. "Temos
quatro igrejas começando na
Flórida. Crescemos lentamente, mas mantemos o número.
Somos uma igreja de imigrantes", diz.
Os cultos são transmitidos
por web e em breve poderão ser
assistidos pelo canal Almavision, em TV por satélite.
Paulo Tinouco, o filho mais
novo, que chegou aos EUA com
nove anos e participou, como
fuzileiro naval, da Guerra do
Iraque ("Estava no terceiro
tanque a entrar no Iraque. Ficamos um mês no Kuait, antes
de invadir. E depois fomos até
Bagdá"), quer estudar produção de TV na universidade, para ajudar no negócio da família.
A congregação em Ironbound já teve quase 80% de
portugueses. Hoje, são menos
de 50%. Durante o culto, é uma
senhora com sotaque português quem entoa a benção "às
criancinhas". Entre os que se
converteram ao pentecostalismo aqui, Rosângela Vaz.
Ela era gerente de telemarketing e vendas antes de sair do
Brasil. E era católica, até sofrer
grave acidente de carro, quando dirigia na estrada que liga
Newark a Nova York.
Não falava inglês e tinha de
responder a processo. O marido, americano de uma evangélica brasileira, se prontificou a
servir de intérprete se ela fosse
visitar a igreja. "E aqui o Senhor
me disse que estava comigo",
diz Rosângela, que foi liberada
de todas as acusações e nunca
mais deixou a igreja.
"Para mim, não foi nada disso. Foi o amor que me trouxe
para a igreja", diz Nádia Adler,
que, antes de imigrar para os
EUA, "vivia em cartomante,
macumbeira e espiritismo".
Era modelo no México ("porque lá não precisa ser alta. São
Paulo exige muita altura")
quando encontrou o executivo
americano com quem se casou.
"Antes usava decotão"
"Sou das poucas legalizadas.
Todo mundo sabe que esse
meio está cheio de prostituição
e drogas. Nunca usei drogas,
mas estava com problema sério
de "panic". Tomava remédio. Já
tinha muito temor a Deus, mas
meu negócio era dinheiro. Pedi
a Deus para me casar com um
homem americano, alto, branco, de cabelos pretos, porque
estava cansada de brasileiro.
Em 20 minutos encontrei o
meu marido. E me tornei evangélica. Aqui, a gente vê o poder
de Deus. Não gosto de igreja
tradicional. Gosto de igreja avivada, que acredita no Espírito
Santo. Antes, usava decotão.
Agora, não uso mais. É o Espírito Santo que molda a gente."
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