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San Antonio: Catolicismo hermano
"A Igreja
Católica faz
esforço para
chegar aos
imigrantes,
mas não sabe
como; nessa
área, os
evangélicos
são muito
ativos"
DO ENVIADO ESPECIAL AOS EUA
Ainda está escuro
quando o padre
Tony Vilano, 42, começa a celebrar a
missa das 6h15 na
catedral histórica de San Fernando, a mais antiga do país,
em San Antonio, Texas.
Cerca de 20 pessoas assistem
à missa bilíngüe na pequena
igreja, fundada em 1731 por famílias vindas das Ilhas Canárias a convite do rei Filipe 5º,
da Espanha. Dez são freiras.
É a primeira semana do padre Vilano como reitor da paróquia no centro histórico da cidade, uma espécie de parque
temático do Velho Oeste, para
turistas.
Vilano nasceu na Alemanha,
filho de um oficial da Força Aérea dos EUA, e cresceu no sul
do Texas. Os pais vêm da região
da fronteira com o México. Antes de San Fernando, serviu em
paróquias de cidades pequenas. "Nas montanhas, em Curville e em Charlotte, há mais
gente que acabou de chegar do
México, trabalhando em ranchos. Deve haver aqui também,
mas há mais na área rural. Essa
é a minha experiência. Eles
vêm para a igreja quando estão
passando necessidade, vêm em
silêncio e rezam por suas famílias no México", afirma.
A Igreja Católica, embora
continue sendo a maior denominação religiosa nos EUA,
com 23,9% da população adulta (os protestantes representam 51,3%, dos quais 26,3% são
evangélicos, mas divididos em
uma grande variedade de denominações), foi também a que
sofreu mais baixas (10% dos
americanos são ex-católicos,
segundo a pesquisa do Pew).
E as perdas só não são maiores porque acabam compensadas pelo fluxo de imigrantes da
América Latina, principalmente mexicanos.
A maioria da população católica de San Antonio é de origem
hispânica. São cerca de 1.600
famílias na congregação, segundo Vilano.
"A imigração é um grande tópico. O Congresso está votando
leis. Mas há diferenças dentro
da própria comunidade hispânica. Entre os que estão aqui há
mais tempo, com raízes estabelecidas, muitos são contra. Os
que chegaram há menos tempo
são a favor de leis mais justas.
Os bispos do Texas acham que
devem existir leis para proteger as fronteiras dos EUA, mas
também acreditam em condições mais justas, sobretudo para os que estão aqui com os filhos nas escolas", diz.
Mestiçagem
Natural de San Antonio, onde uma praça do centro foi batizada em sua homenagem, o padre Virgilio Elizondo, considerado um dos líderes espirituais
mais inovadores da atualidade
pela revista "Time", foi reitor
da catedral de San Fernando
durante 12 anos e hoje leciona
teologia na universidade de
Notre Dame, em Indiana.
Elizondo ficou conhecido sobretudo por sua leitura política
da idéia de mestiçagem cultural
e racial, defendida em livros como "Galilean Journey - The
Mexican-American Promise"
(A Jornada Galiléia - A Promessa México-Americana), publicado nos anos 1980 e no qual
faz uma analogia entre o imigrante mexicano nos EUA (o
"mestiço") e a experiência de
Jesus na Galiléia.
"Acredito que, por trás da
violência desencadeada por um
pequeno, mas poderoso, grupo
de racistas brancos em relação
à questão da imigração nos
EUA, esteja precisamente o
medo da "mistura". É mais fácil
lidar com uma divisão entre negros e brancos do que com o
que fica entre uma coisa e outra. A mistura de raças era proibida nos EUA até essas leis serem tornadas inconstitucionais, em 1967. O Estado de Alabama só as eliminou em 2000."
"A religião poderia ter um papel importante na conversão
dessa mentalidade da desigualdade baseada na cor, mas não
ouço a igreja falando sobre isso." "No encontro de bispos em
Aparecida (SP) [em 2007], todos os cardeais em torno do papa Bento 16 na sessão de abertura eram homens brancos
-nenhuma mulher, nenhum
pardo, nenhum negro. É uma
mensagem racista poderosa
enviada ao resto da sociedade",
acrescenta.
O Fórum Pew estima que 1,3
milhão de católicos hispânicos
tenham se convertido ao pentecostalismo desde que emigraram. "A igreja nos EUA está
fazendo grandes esforços para
chegar aos imigrantes, mas
muitas vezes não sabe como.
Nessa área, os evangélicos são
muito ativos", diz Elizondo.
Conservadorismo relativo
Segundo Gastón Espinosa,
professor de estudos religiosos
do Claremont McKenna College, na Califórnia, e presidente
da Comunidade Hispânica de
Estudiosos da Religião, 53%
dos imigrantes já chegam aos
EUA convertidos ao pentecostalismo; o resto se converte em
solo americano.
Dos 46 milhões de latinos no
país, 70% se mantêm católicos.
"Os carismáticos católicos
têm sido muito ativos na comunidade latina desde pelo menos
1972. E foi o que ajudou a mantê-los em torno de 70% por
mais de duas décadas. Mais de
22% (7,1 milhões) da população
de latinos católicos nos EUA se
identifica ao mesmo tempo como renascida em Cristo, pentecostal ou carismática", afirma
Espinosa.
Em geral, o imigrante hispânico que se converte ao pentecostalismo também fica mais
aberto aos pontos de vista republicanos sobre a família, o
casamento homossexual e outros itens relacionados.
"Mas é preciso ter em mente
que, embora relativamente
mais liberal em alguns desses
itens, a maioria dos católicos
também é contra o casamento
homossexual e o aborto. No
que diz respeito à liberdade de
credo e de opinião, à autoridade
das hierarquias religiosas e às
mulheres no sacerdócio, os
evangélicos são politicamente
mais liberais. Os dois grupos
são politicamente conservadores e liberais à sua maneira", diz
Espinosa.
A imigração não garante,
portanto, uma comunidade católica mais liberal. Em alguns
aspectos, ao contrário, pode até
torná-la mais conservadora.
"Os católicos euro-americanos tendem a ser muito mais
progressistas, do ponto de vista
político, do que a média dos católicos na América Latina, enquanto a hierarquia nas duas
regiões tende a ser conservadora em certos assuntos (casamento homossexual, ordenação de mulheres etc.) e liberal
em outros, como a pena de
morte, a reforma da imigração
e os direitos civis", afirma.
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