São Paulo, Domingo, 18 de Abril de 1999
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DOSTOIÉVSKI POR...

NIETZSCHE

"Quanto ao problema que nos interessa, o testemunho de Dostoiévski tem grande peso (diga-se de passagem que Dostoiévski é o único psicólogo que me ensinou alguma coisa; considero-o um dos maiores achados da minha vida, mais ainda do que minha descoberta de Stendhal). Esse homem profundo, que tinha mil vezes razão de dedicar pífia estima aos alemães superficiais, viveu por muito tempo entre os forçados da Sibéria -todos eles condenados por crimes capitais e a quem se negava qualquer retorno à sociedade, mas que lhe causaram uma impressão bem diferente da que ele mesmo esperava: em poucas palavras, pareceram-lhe talhados da melhor madeira, da mais dura e preciosa que o solo russo jamais produziu."


Em "Crepúsculo dos Ídolos"

POR KAFKA

"O argumento de Max [Brod" contra Dostoiévski: ele põe em cena loucos demais. Absolutamente inexato. Não se trata de loucos. A indicação de doença não é mais que uma maneira de apresentar os personagens e, aliás, um modo muito delicado e fecundo. (...) Há nessas situações, quando não se trata de uma simples brincadeira, uma mistura infinita de intenções. É assim, por exemplo, que Karamázov-pai não é de modo algum um bufão: ele é um homem mau, decerto, mas muito inteligente, quase à altura de Ivan, e de qualquer modo muito mais inteligente do que o proprietário rural, seu primo ou sobrinho, que o narrador se abstém de atacar e que se sente tão nobre em comparação com ele."


Em "Diário", em 20 de dezembro de 1914.

NABOKOV

"Em meus cursos, abordo a literatura do único ângulo que me interessa: o do grande gênio individual que resiste ao tempo. Considerado desse ângulo, Dostoiévski não é um grande escritor, mas antes um autor medíocre, com lampejos de real originalidade lastimavelmente perdidos em estepes de platitude literária. (...) A falta de gosto de Dostoiévski, seu convívio monótono com seres que sofrem de complexos pré-freudianos, seu modo de se deleitar com os descaminhos trágicos da dignidade humana, eis o que é difícil admirar. (...) É como se ele tivesse sido escolhido pelo destino das letras russas para se tornar o maior dramaturgo do país, e então tivesse perdido o rumo escrevendo romances."


Em "Lectures on Literature"



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