São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2001

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Concluindo a trilha sonora do filme "500 Almas", de Joel Pizzini, o compositor e instrumentista Livio Tragtenberg conversou com o Mais! sobre a situação da música no novo cinema brasileiro e as suas potencialidades.

A trilha sonora está avançando no mesmo compasso do novo cinema nacional?
Tecnicamente até que está. Mas, criativamente, ainda está muito presa a clichês e formatos importados do cinema norte-americano e da TV brasileira (novelas, minisséries...).
Quais as tendências mais fortes da música para cinema feita no país?
A mais forte -e a meu ver mais pobre- se relaciona com a canção popular, que vira linha de transmissão de gravadora para vender disco. Música de cinema tem outras possibilidades, próprias e mais interessantes. Existem criadores que destoam, como Wilson Sukorski.
Agora estou finalizando "500 Almas", de Joel Pizzini, usando conceitos de espacialização da música em relação à posição do espectador na sala: se ele está perto da tela, ouve musica orquestral européia; se está sentado mais ao fundo, ouve uma cantoria indígena. Quem mistura esses sons é o espectador.
Os cineastas e produtores estão sintonizados com uma "boa" música?
De forma geral, falta cultura musical e conhecimento técnico do que é som, que costuma ser usado de maneira simplista, como descrição e indução emocional. Herança da sonoplastia do rádio e do cinema americano mais meloso. Uma música boa para o rádio pode ser medíocre no cinema. Exceções são cineastas como Julio Bressane, Tata Amaral, Lucia Murat, Murilo Salles e Pizzini.
Agora, quando temos melhores salas de exibição, é o momento de os produtores tratarem a produção sonora com a mesma importância que a visual, uma vez que o público é um só corpo a ser provocado e incitado.
O que as inovações técnicas proporcionam?
Elas "inventam" o espaço do ouvido que dialoga com o olho, criam novos horizontes semânticos e físicos. São o último instrumento do compositor.



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