São Paulo, domingo, 19 de março de 2000


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Nietzsche

Escuras nuvens avançam sobre a montanha
Gélidas tempestades fustigam - ainda meio
/outono

Meio primavera... Eis a muralha
Que encarcerou o Trovejador - era o único
Entre os milhares de pó e névoa ao seu redor?
Ali lançou seus últimos relâmpagos rebotos
Sobre planícies e cidades extintas
Transpondo a longa noite para a noite eterna.

Crassa trota abaixo a massa -não a espantem!
Seria ferir medusa -ceifar erva!
Em instantes impera o silêncio celestial
O animal que o polui com elogios
E se ceva em fumos de mofo sufocando-o
Está prestes ao fim!
E então radiante reinarás através dos tempos
Com a coroa ensanguentada como outros guias.

Tu redentor! de todos o mais infeliz -
Marcado pelo destino atroz
Nunca viste a sede da saudade sorrir?
Criaste deuses para logo despedaçá-los
Nunca uma obra te deu alegria ou alívio?
Aniquilaste em ti próprio o próximo
E ao sentires sua falta na absoluta solidão
Soltaste um grito de dor e desespero.

Tarde demais chegou o suplicante para revelar-te:
Não existem caminhos sobre cimos nevados
E pássaros apavorados ouviste - na miséria:
Exilado no círculo onde o amor inexiste...
E quando a implacável e atormentada voz
Soa como canto de louvor em soturnas noites
De luar - assim lamenta-se: devia ter cantado
Essa nova alma e a palavra evitado!



Poema de Stefan George extraído de "Crepúsculo".
Tradução de Eduardo de Campos Valadares


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