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Simplificações
e estereótipos
da Redação
Já desde seu primeiro livro, "Afogado" (ed. Record), de 1996, o dominicano radicado nos EUA
Junot Diaz é considerado pela crítica o principal
escritor hispânico do país. "Afogado" acompanha ao longo de várias narrativas a vida de um garoto
dominicano cuja família emigra para os EUA.
(MARCOS FLAMÍNIO PERES)
Pode-se ver "Afogado" como uma "pequena odisséia", um panorama da condição hispânica nos EUA?
Fico contente por você ter escolhido a palavra
"odisséia". Poucos críticos percebem que a história é em certo modo um recontar do mito de
Odisseu, só que da perspectiva do filho, Telêmaco, que espera pelo pai. O livro está interessado
em um grupo específico de imigrantes dominicanos pobres e mulatos que vive na Nova Jersey
central e também estuda a experiência da diáspora, os custos emocional, familiar e espiritual que
concernem a esses deslocamentos de imigrantes.
O spanglish é uma expressão legítima da comunidade
hispânica nos EUA?
Não sou linguista, mas parece que é comum e natural que duas línguas que estão em contato tão
próximo se influenciem. Mas eu duvido que algum dia haja um verdadeiro idioma spanglish.
O sr. acredita que a questão da mestiçagem seja apenas uma construção ideológica?
Latinos, assim como afro-americanos, ainda sofrem a mais ultrajante discriminação nos EUA.
Somos discriminados no trabalho, nos negam
oportunidades em termos de habitação e tratamento médico adequado, somos discriminados
por bancos e brutalizados pela polícia.
Agora, do outro lado da moeda, latinos, como
os afro-americanos, também têm uma das mais
surpreendentes histórias de resistência organizacional contra essas formas de supremacia branca;
organizações latinas têm combatido a marginalização, criminalização e discriminação desde antes de o termo "latino" ser inventado.
Essa na verdade é a comunidade latina à qual
pertenço e sobre a qual escrevi. Quando a imprensa "mainstream" fala de latinização, ela não
tem interesse nenhum em realidades complexas;
em vez disso, ela busca reduzir a comunidade latina a estereótipos ridículos e aos elementos musicais que são os mais facilmente acomodados.
Os latinos escolhidos pela mídia para representar a comunidade são, na verdade, escolhidos por
representar melhor essas simplificações. Ricky
Martin é um cara ótimo e Jennifer Lopez é bacana
também, mas da forma como estão sendo representados atualmente eles são tão latinos quanto
uma intervenção militar norte-americana. Uma
verdadeira latinização dos EUA ocorrerá quando
nossas lutas, nossas preocupações, nossas questões, nossas realidades se tornarem as lutas, preocupações, questão e realidade da própria nação.
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