São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2000 |
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Trecho
Fácil é ver que o amor é uma paixão. Isso porque angústia nenhuma é maior
que a provocada por ele, pois o enamorado está sempre no temor de que sua
paixão não atinja o resultado desejado e de que seus esforços sejam baldados.
Teme também o falatório da multidão e tudo o que, de uma maneira ou de outra, possa prejudicar seu amor, pois é bem frequente que uma perturbação mínima impeça de levar a bom termo o que se ia consumar. Se o enamorado é pobre, teme que a amada vilipendie sua penúria; se é feio, teme que ela despreze
seu físico ingrato ou que procure o amor de alguém mais belo; se é rico, teme
que sua passada parcimônia acabe por reverter em prejuízo; e, para dizer a verdade, não há ninguém que possa contar em minúcias os temores do enamorado. Essa espécie de amor é, pois, uma paixão não-recíproca que se pode chamar
de "amor singular". Mas, uma vez correspondido o amor, as angústias que surgem não são menores; porque cada um dos dois amantes teme perder, pela
ação de um terceiro, aquilo que conquistou com tanto esforço. Trecho de "Tratado do Amor Cortês", de André Capelão Texto Anterior: + livros - Hilário Franco Júnior: A invenção da paixão Próximo Texto: + livros - Cristovão Tezza: O império do gelo Índice |
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