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JLG por JLG
Leia a seguir declarações de Godard ao
jornal "Libération" por ocasião do lançamento de "História(s) do Cinema".
Mundo digital - Moisés disse:
"Tu não farás imagem". Seria
melhor se nada tivesse dito. A
partir do momento em que dizemos às crianças: "Você não fará
isso", pode ter certeza de que
elas vão correndo fazer. Foi o
que a Igreja pretendeu, ao colocar a interdição antes da permissão. Estamos no fim de tudo isso.
Passamos às máquinas, aos robôs. Os clássicos da ficção científica já descreveram os próximos
20 mil anos. O computador é feito para que possamos enviar 120
programas hindus ao mesmo
tempo, ao passo que, quando colocamos 120 pobres hindus em
um trem, eles vão comprimidos.
Os deportados, os comprimidos.
Será que consegui comprimir
bem a imagem de uma mulher? A
palavra não é escolhida ao acaso,
existe na farmácia: comprimidos. Descomprimidos, os hindus
saem do avião quase mortos. Foram colocados 120, mas nem as
vacas teriam suportado tanto. Os
programas são assim. Estimula-se a qualidade antes, para que
ela possa, após todas as degradações pelas quais passará, chegar
ao mesmo ponto de partida."
Romance - "Durante muito tempo, antes do cinema, tentei escrever um romance. Notei que não
seria capaz, porque não ultrapassava a primeira frase. Pensava:
mas por que exatamente essa?
Comecei assim: "O céu está escuro". Mas, depois, tudo também
está escuro? O cinema me ajudou, dizendo: você coloca a câmera lá; ela dirá se está escuro ou
não, e depois você continuará."
Renúncia - "Se se faz um bom
filme, deve-se a tudo renunciar;
os filmes medíocres são aqueles
que não renunciaram a quase nada. Renunciar a tudo, eis a obrigação do cinema. Você escolhe
Sharon Stone para fazer o seu filme, mas lhe enviarão Julie Benazaref, e você se vira."
Nunca convidado - "Rohmer,
creio, é a última pessoa de cinema que eu conhecia que me convidou para jantar, porque muita
gente vem na minha casa. Eles
vêm comer, filmar na minha casa,
eles sabem de tudo: onde fica o
banheiro, onde guardamos as
roupas de cama, tudo. Ninguém
jamais me convidou para ir em
sua casa, ninguém."
Família - "Rompi com minha família após tê-la explorado ao máximo, até o dia em que me colocaram num reformatório, já que eu
roubava. Diziam-me: "Mas é uma
vergonha. Você não rouba nem
mesmo os outros, mas a nós"."
Truffaut - "O grande problema
com ele é que, pouco a pouco,
descobri que não gostava tanto
assim de seus filmes e mentia ao
dizer que os apreciava. Gostava
mesmo era da sua disposição no
mundo do cinema, e não via muito a diferença. Gostava, mas
achava que ele não deveria ter
feito filmes. E ,quando você diz
aos escritores que eles não deveriam escrever, eles levam a
mal..."
Biógrafos - "Os biógrafos fazem
sempre uma enormidade de textos e depois um pequeno caderno, em geral de fotos acinzentadas, em que vemos o autor, depois sua mamãe, depois o papai e
em seguida sua primeira turma
de escola. Elas não servem senão
para lembrar que se trata provavelmente da mesma pessoa e que
essa pessoa existiu. Porque, se
temos unicamente o livro de Laure Adler, ficaremos em dúvida se
essa senhora que se chama Marguerite Duras realmente existiu."
Microondas - "Os cientistas fazem clones se têm vontade; eles
fazem bomba atômica se têm
vontade; eles podem fazer fornos
de microondas que transmitam
imagens, já que o que se vê é
mesmo só televisão, e isso acontecerá algum dia. Muito bem: se
eu puder ver Griffith pelo microondas, comprarei um."
Tradução de Leonardo Babo.
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