São Paulo, domingo, 21 de maio de 2006

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Um véu voluntário

SARAH CASSIDY

A maior parte dos romances dirigidos a meninas adolescentes trata de primeiros beijos, amizade e problemas com os pais.
Mas um romance que está saindo no Reino Unido trata da espinhosa questão do uso do "hijab" (lenço de cabeça), um dos primeiros a discorrer sobre as experiências de uma menina muçulmana criada em uma sociedade ocidental.
"Does My Head Look Big in This?" conta a história de Amal, 16, uma garota muçulmana que vive na Austrália e que decide, sem motivo aparente, que deseja usar o véu em sua escola. A decisão choca pais e amigos, mas propicia à protagonista uma sensação de calma e convicção íntimas.
A autora, Randa Abdel-Fattah, 26, advogada em Sydney, baseou o romance em suas experiências como adolescente criada na Austrália, onde usou o "hijab" entre os 14 e 17 anos.
"Eu queria demolir os mitos sobre os muçulmanos, especialmente sobre as muçulmanas, muitas vezes encaradas como alienígenas. Queria escrever um livro que permitisse que os leitores entrassem no mundo da adolescente muçulmana média e vissem mais que as manchetes e estereótipos."
Abdel-Fattah, que é descendente de egípcios e palestinos e cresceu em Melbourne, diz: "Sofri muito racismo e preconceito quando usava o "hijab", e certa vez o lenço foi arrancado de minha cabeça. O insulto mais comum era "volte para o lugar de onde veio". Freqüentemente surgia a suposição de que eu não era australiana, pois usava o "hijab". Havia a suposição de que eu era do Oriente Médio, ou uma terrorista".
Mas o romance, o primeiro de Abdel-Fattah, também trata da rebeldia, o território comum da adolescência, e de distúrbios alimentares, problemas de pele, fumo e álcool. "Adolescentes muçulmanos me disseram que é o único livro que viram que trata ao mesmo tempo de uma vida normal como adolescente e de ser muçulmano", afirma.
"Quando comecei a procurar um agente para meu livro e expliquei que o tema era uma adolescente muçulmana, me perguntavam se havia no livro um assassinato por motivo de honra. A cada vez que lemos um livro sobre muçulmanos, o tema é ou a família real saudita ou o Taleban ou assassinatos por motivo de honra. O meu é sobre a experiência de uma muçulmana comum, e de uma adolescência comum."
Abdel-Fattah diz que não usa mais o véu e que se viu forçada a tomar a "dolorosa" decisão de abandoná-lo porque viu como suas amigas que o usavam tinham dificuldade para conseguir trabalho como advogadas.


Este texto foi publicado no "Independent".
Tradução de Paulo Migliacci.
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