São Paulo, Domingo, 21 de Novembro de 1999
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DEPOIMENTOS

RAYMUNDO FAORO, ensaísta e advogado "Gramsci é um marxista que não pereceu na recente fogueira que pretendeu liquidar o marxismo. Ele, além de original e avesso à ortodoxia, tem especial significação para a compreensão do Brasil. Há conceitos seus que, neste país, são atualíssimos. Felizmente, dessa vez, será editada a obra completa, num conjunto que é essencial para o conhecimento de suas idéias."

JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI, filósofo "Está havendo, felizmente, um certo retorno a Marx, na medida em que não só o neoliberalismo está em xeque, mas também a própria forma de pensar a sociedade entrou em colapso. A publicação de Gramsci se insere nesse quadro. Mesmo nos EUA se tem notado essa tendência."

LUIZ WERNECK VIANNA, cientista político "A recepção de Gramsci no Brasil deve ser contextualizada no processo de resistência ao regime militar. Com a sua revalorização da sociedade civil, Gramsci foi o teórico que favoreceu uma aliança entre uma certa esquerda (uma ala do PCB) e alguns liberais preocupados em emancipar a sociedade do controle do Estado. Tenho a expectativa de que a edição dos "Cadernos" desencadeie um novo tipo de reflexão."

LEANDRO KONDER, ensaísta e escritor "Mais de 30 anos se passaram e Gramsci está de volta entre nós. É uma excelente oportunidade para as novas gerações digerirem o que ele escreveu sobre a sociedade civil e o Estado, a guerra de posições e a hegemonia, os intelectuais e a revolução passiva, o senso comum e o bom senso, o nacional-popular e a política cultural. Riquíssimo material para reflexão."

JOSÉ GENOÍNO, deputado federal (PT-SP) "Gramsci é uma referência importante para o pensamento de esquerda, um dos que mais contribuíram para renovar o marxismo neste século, tendo introduzido o conceito de "hegemonia" -em oposição à idéia de "assalto ao poder". Alguns pontos estão superados, como as bases do dogmatismo marxista. A esquerda tem de ter uma relação de independência com esses textos, tomá-los como referência para uma releitura diante de um novo contexto. A cultura da esquerda em nosso país é muito fraca. Essa publicação ajudará a melhorar a qualidade do debate."

JACOB GORENDER, historiador "Respondendo à indagação a respeito do processo da revolução socialista no Ocidente, no primeiro pós-Guerra, Gramsci põe à luz o nível de profundidade no qual se descobre a hegemonia burguesa alicerçada na conquista do consenso do proletariado. Agora, todavia, o processo histórico completou um ciclo, que permite desvelar um nível ainda mais profundo do conhecimento social: aquele em que se torna patente o reformismo ontológico do proletariado, sua preferência fundamental pelos benefícios dentro do próprio sistema capitalista."

FREI BETTO, frade dominicano e escritor "Considero Gramsci mais atual que nunca, porque foi dos poucos teóricos a tratar a questão da subjetividade e da cultura no processo histórico. A Queda do Muro de Berlim, a meu ver, resultou do fracasso de se tentar construir coisa nova com material velho. A proposta era boa, conseguiu criar direitos sociais razoavelmente igualitários, porém não se trabalhou a questão da subjetividade e sua expressão na formação da sociedade civil e da democracia. Particularmente me encanta em Gramsci a ótica despreconceituosa diante do fenômeno religioso, o que é raro nos teóricos marxistas da primeira metade do século."



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