São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997.



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LYGIA FAGUNDES TELLES
CONTOS DE VERÃO


"Me fotografar hoje? Não, hoje não. Venha na segunda-feira. Prometo não envelhecer mais até lá..."
Com vergonha das unhas sujas pela tinta da fita da sua velha Olivetti, a escritora Lygia Fagundes Telles, 72, recebe o fotógrafo em seu apartamento na "desencantada" cidade de São Paulo.
"Ontem precisei trocar a fita da máquina e me sujei toda... Preciso esconder as unhas de você", diz, ao mostrar as mãos alvas e limpas.
"Moro nessa casa desde 1980. O escritório, no inverno, é num dos quartos, mas com o calor do verão eu me mudo aqui para a sala. Fico deprimida no frio. Se morasse na Europa eu seria uma alcoólatra."
Edder Chiodetto/Folha Imagem
Lygia Fagundes Telles na sala de seu apartmamento, em São Paulo, local que, no verão, utiliza como escritório


Enquanto é fotografada, Lygia trabalha, datilografando um conto no papel sulfite. Ao errar, pinta o erro com corretor branco e prossegue. Revisa o que acabou de escrever e fica descontente com um parágrafo inteiro. Retira o papel da máquina, corta a parte ruim com uma tesoura, emenda em outra folha com cola, recoloca o papel no rolo da máquina e reescreve o parágrafo. "Assim ficou melhor", diz, e traga forte o cigarro.
"Ganhei um computador de presente. Ele está lá no quarto, dentro da embalagem. Quando eu terminar de escrever meu próximo livro, vou aposentar a máquina de escrever e usar o computador", diz, sem muita convicção.
Ao escrever, Lygia gosta de ouvir música clássica. "Mas não pode ser música com letra, porque aí não me concentro." Para não se desconcentrar, precisou deixar Lili Carabina, sua gata, com a vizinha. "Eu a amo, mas ela estava me roubando muito a atenção."
Sobre sua mesa, ficam algumas pastas de papelão, como as de uma professora de crianças, com pequenas etiquetas adesivas na capa. Há a pasta "papéis recentes", com recortes de jornal, ou a pasta onde ela arquiva os contos do novo livro, que ele talvez chame de "Invenção e Memória", talvez de "História de Passarinho".


LYGIA FAGUNDES TELLES nasceu em São Paulo (SP), onde vive. Escreveu "As Meninas" (José Olympio), "As Horas Nuas" (Nova Fronteira) e "A Estrutura da Bolha de Sabão" (Record), "A Noite Escura e Mais Eu" (Nova Fronteira), entre outros.



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