São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997. |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice JORGE AMADO A NAMORADA DE FADUL
"É o moço da Folha, que te espera", diz Zélia. O escritor se levanta vagarosamente e senta à cabeceira da mesa da sala de jantar. "Tenho a dizer que sempre gostei de escrever nessa mesa, no meio de todas as coisas." Desde que realizou uma angioplastia, no ano passado, Jorge deixou de escrever. Zélia senta-se à mesa, ao seu lado, a fim de selecionar a enorme quantidade de cartas. "Não gosto nem desgosto de receber cartas, eu as recebo. Às vezes é excessivo", diz Jorge. Ela lê a correspondência. Ele ouve, com o olhar distante. As cartas trazem convites para comemorações. Jorge não se interessa por nenhum. Quer mesmo é estar na sua sala, onde recebe os amigos, assiste à TV e lê os jornais. Deste modo, a mesa e a sala permanecem o seu escritório. Quando se entendia das cartas, que sua mulher continua lendo, Jorge pede licença, levanta-se e vai para a poltrona, onde Fifi, dormindo, o aguarda. A gata boceja e se move preguiçosa para dar espaço a Jorge. Ele se deita. Ela ronrona e ajeita a cabeça no peito do dono. Dormem os dois profundamente. Ao fotógrafo resta capturar, no silêncio, imagens como essa. Zélia me conduz até o portão. Fadul late e continua a olhar o homem e a bolsa que não lhe trouxeram a namorada. JORGE AMADO nasceu em 1912 em Ferradas (BA). É autor de "Capitães de Areia", "Mar Morto", "Jubiabá", "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Gabriela Cravo e Canela" (Record), entre outros. Acaba de publicar o conto "O Milagre dos Pássaros" (Record). Vive em Salvador (BA). Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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